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Falecimento de um Parente querido

Segundo os dicionários, despedida significa (entre outros) dizer adeus.
Dizer adeus e não um até logo, segundo o meu sentir, representa uma decisão consciente de partir sem passagem de retorno.
Ir, sobretudo, em frente.
Encarando a ausência de quem resolveu permanecer lá – seja onde for e não aqui.
Mas esta ideia crua de partida nunca fez muito sentido para mim.
Ainda hoje eu procuro entender o contexto da finitude.
Do então é isso, acabou.
Fim da linha.
Au revoir!
Sempre que me coube o poder da decisão, optei por experimentar a doce incerteza de um “até mais! ” que muitas vezes chegava a demorar mais do que o esperado , a ter que ouvir um seco e indigesto “até nunca mais! ”.
Ou nem isso.
Confesso que durante muito tempo eu acreditei que a pior parte em ter que lidar com uma despedida, fosse o acordar pela manhã seguinte e perceber que a casa estava vazia.
Que aqueles tão habituais sons de vozes e passos haviam, enfim, emudecido.
Que tudo aquilo que poderia vir a ser, conjugou se no tempo passado antes mesmo de ter sido um presente, num presente.
Mas eu finalmente percebi que no final das contas, saber que alguém partiu para não mais voltar não representava em si a dor maior.
O epicentro de todo o meu sofrimento.
O que de fato orquestrava e com mestria – os efeitos da despedida como ato irretocável, era a sensação de que alguém se foi, sem ter, de fato, ido; que é quando a razão olha para os lados e só vê um espaço amplo, porém, oco, e então a emoção vem e diz: Nâo.
Olhe direito! As lembranças estão aqui.
Todas elas.
Em todo canto.
Em cada parede.
Em cada piscar de olhos que remete a sorriso.
Em cada silêncio que entoa aquela voz reconhecível no meio de uma multidão de outras vozes.
Em cada marcação de tempo que faz recordar uma mão que sempre encontrava a outra no meio de uma daquelas noites tempestuosas que inspirava a ficar junto.
Unindo forças e sentimentos.
Sendo e permanecendo.
Talvez um dia eu amadureça o suficiente para compreender essas coisas acabáveis.
Ou talvez continue acreditando que em algum momento acontecerá um reencontro e então o adeus, por fim, se redimirá.

CONVÍVIO DOS MORTOS
Quero tudo que não me foi,
Tudo talvez o que não mais é
A despedida da antiga e errônea dor
Da pobre esperança sensata
constituída em fé.
Quero abraçar esta noite nebulosa como última,
aquela que não se veem a chegar
A que possui dois córregos de um mesmo rio separados,
Que sem escolha trilharei
Ao certo, onde será o que se esperam
Quero junto a ti nesta sossegada paz
Ir além do conhecido, do eterno
Do místico ao surreal,
Do terço à boêmia.
Quero esse sentimento mentiroso e egoísta
Devastador!
Que o que em outrora, de um lado da moeda, consolador!
Quero estar com olhos de enfermos e desfalecidos diante de tuas faces e momento,
Ver te de baixo
Para que nao o veja,
O olhar negro, abetumado, abioso,
Pois bem sei que o lugar que virgílhas
Em mero relance antigas idas,
Não encontrarás o recinto que cobriu me
Como o soprar da ultima vela.
Não quero enxergar o que os os lhos inibem
As neblinas que não se dissipam,
Omite ao olhar a certa cegueira
Sob tão cedo catatumbas bem mal cuidadas,
Que não tiveram a verdadeira despedida
Desta face de teus cabelos
E do medo que se prega.
Em suspiros que sussurram, se proliferam
E nao se passam, se propaga
Contaminam este convívio dos mortos,
Inquieto, constante, devaço, tenebroso
Infecta os vivos que temem, não deixam a de temer
E nestas caminhadas noturnas que rogam
Suplicam ao tempo que não permitira esquecer
O vácuo deste solo sem saída
Que o menor ser procura romper,
Quero encontrar este endereço baldio
Que se fez morada e não flui
Que vaga e não dilui
Neste imenso cemitério que não mórbido
Se tem o que não foi,
O que apenas se constitui.
Willas Fernandes.
17.12.15.