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Olavo de Carvalho

As provas da existência de Deus demonstram a NECESSIDADE LÓGICA dessa existência, não a sua FACTUALIDADE.
Ademais, toda prova lógica só pode demonstrar a existência de 'algum' deus, no sentido genérico, não a de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, mas, como este é o único Deus que existe, a prova genérica é necessariamente insatisfatória.
A fé exige algo mais.
Dizer que existe alguma prova lógica da existência de Deus É O MESMO que dizer que a existência de Deus é logicamente necessária.
[ ] Só disse que não se pode atribuir a Ele a 'existência' no sentido em que este termo se aplica às coisas criadas.
[ ] a lógica, por si, não pode provar a existência de nada, apenas a necessidade lógica dessa existência, mas, como não existe existência genérica e o próprio Deus não é uma generalidade e sim uma PESSOA real e concreta, a prova lógica deixa escapar o principal, a não ser que seja complementada pelo conhecimento intuitivo direto da AÇÃO divina no mundo, Aí a certeza não é só a da existência de 'algum' Deus, e sim a do NOSSO Deus.
Para encerrar esta coisa: Se a lógica pudesse provar algo mais que a necessidade lógica da existência de um Deus genérico, se ela pudesse, partindo da existência das coisas criadas, provar a existência do NOSSO Deus, a revelação seria inteiramente desnecessária e a Encarnação seria apenas uma redundância.
Fim de conversa.
Dou por pressuposta a teoria de Sto.
Tomás e tento raciocinar A PARTIR DELA em vez de simplesmente repeti la.
Tal é a obrigação do filósofo.
Por essa via, pergunto: Se provamos apenas a necessidade lógica, maximamente cogente, da existência de 'um' Deus criador, provamos apenas a existência de um Ser genérico, não a do NOSSO Deus, Esse Ser genérico existe independentemente e acima das Três Pessoas da Trindade Se respondemos 'sim', somos muçulmanos; esse Ser é exatamente o que se entende por 'Allah'.
Mas se sabemos, pela Revelação, que o Único Deus que existe é o das Três Pessoas, é claro que não podemos nos contentar com a prova lógica e temos de levar a investigação adiante.
Sto.
Tomás, na 'Suma Contra os Gentios', deixa claro que a prova da existência de Deus pela dos seres contingentes é válida igualmente para os cristãos, os judeus e os muçulmanos.
É portanto evidente que essa prova trata de 'um' Deus genérico e não do NOSSO Deus em particular.

Se você quer 'provar que Deus existe' ou que não existe –, tem de admitir a existência de um domínio chamado 'existência', que O transcende e no qual Ele está ou não está.
Isso é coisa de maluco.
O raciocínio lógico tem em si as razões da sua 'validade', mas não da sua cognoscibilidade.
O raciocínio lógico seria impossível sem a percepção intuitiva da igualdade de duas proposições.
Não há 'conhecimento racional', só conhecimento intuitivo.
Como percebo a unidade de duas proposições num silogismo É por outro silogismo, e mais outro e mais outro ainda, ou é por uma intuição imediata da forma
Intuição é: percepção imediata de uma presença.
Por baixo ou para além da intuição, só existe o 'conhecimento por presença' que a torna possível.
Em vez de se esforçar para 'provar' alguma coisa, o filósofo se dedica a perceber e expressar depois de aprender a abrir se à presença.
Todas as nossas intuições são instantâneas.
Só o conhecimento por presença me informa da continuidade do mundo.
A razão pode reforçar as razões de crer nela, mas não pode 'prová la', já que toda possibilidade de prova se assenta nessa mesma continuidade.
'Provar' é coisa de contabilistas e policiais.
O filósofo pode estimular a intuição para que seus ouvintes percebam o que ele percebeu, mas não provar algo a quem não percebeu nada e quem percebeu não precisa de prova.
Provas só servem para dar validade social a uma crença esquemática, que simboliza de maneira distante e vaga alguma intuição originária.
Um filósofo de verdade não faz a mínima questão de que suas conclusões adquiram validade social apenas de que sejam confirmadas por quem percebeu o que ele percebeu.
Minha própria continuidade não pode ser percebida como objeto de meus pensamentos, mas se impõe a mim de maneira avassaladora como condição 'sine qua non' da minha possibilidade de pensar.
Que não dizer, então, da continuidade do Ser como um todo