Se você quer 'provar que Deus existe' ou que não existe –, tem de admitir a existência de um domínio chamado 'existência', que O transcende e no qual Ele está ou não está.
Isso é coisa de maluco.
O raciocínio lógico tem em si as razões da sua 'validade', mas não da sua cognoscibilidade.
O raciocínio lógico seria impossível sem a percepção intuitiva da igualdade de duas proposições.
Não há 'conhecimento racional', só conhecimento intuitivo.
Como percebo a unidade de duas proposições num silogismo É por outro silogismo, e mais outro e mais outro ainda, ou é por uma intuição imediata da forma
Intuição é: percepção imediata de uma presença.
Por baixo ou para além da intuição, só existe o 'conhecimento por presença' que a torna possível.
Em vez de se esforçar para 'provar' alguma coisa, o filósofo se dedica a perceber e expressar depois de aprender a abrir se à presença.
Todas as nossas intuições são instantâneas.
Só o conhecimento por presença me informa da continuidade do mundo.
A razão pode reforçar as razões de crer nela, mas não pode 'prová la', já que toda possibilidade de prova se assenta nessa mesma continuidade.
'Provar' é coisa de contabilistas e policiais.
O filósofo pode estimular a intuição para que seus ouvintes percebam o que ele percebeu, mas não provar algo a quem não percebeu nada e quem percebeu não precisa de prova.
Provas só servem para dar validade social a uma crença esquemática, que simboliza de maneira distante e vaga alguma intuição originária.
Um filósofo de verdade não faz a mínima questão de que suas conclusões adquiram validade social apenas de que sejam confirmadas por quem percebeu o que ele percebeu.
Minha própria continuidade não pode ser percebida como objeto de meus pensamentos, mas se impõe a mim de maneira avassaladora como condição 'sine qua non' da minha possibilidade de pensar.
Que não dizer, então, da continuidade do Ser como um todo