[Até o século XIX,] o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava.
E o primeiro a saber se idiota era o próprio idiota.
Não tinha ilusões.
Julgando se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar uma cadeira do lugar.
Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida.
Simplesmente, não pensava.
Os ‘melhores’ pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele.
Deve se a Marx o formidável despertar dos idiotas.
Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica.
E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava se a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc.
Houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas.
(Nelson Rodrigeus, O reacionário [1], pág.
456)