Ao menos o aldrabão, através das palavras que nos deixa, pode ser analisado e confrontado.
O calado, em contrapartida, está protegido.
Não tendo falado, não mentiu.
Mantendo o silêncio, não induziu ninguém em erro.
E, caso tenha induzido, a culpa obviamente não foi dele
No restaurante, se te recusares a comer uma iguaria, é a gerência que entra em neurose e a culpa é de toda a gente menos tua.
Em casa, o facto de não gostares (e de não comeres) é julgado como uma falta de amor, de dignidade, de tento, de tudo.
Temos este defeito estraga prazeres de sermos incapazes de julgar e agradecer (ou amaldiçoar) os momentos que experimentamos, por causa da expectativa preconcebida do que vai acontecer a seguir.
O tédio parece chato ao princípio, mas, caso leve a um saudável desespero, acaba sempre por ser fértil e criativo.
Os melhores petiscos são aqueles que não podem ser comprados por muito dinheiro ou amor que se tenha mas somente adquiridos por ter nascido e vivido num determinado lugar; por ser filho, sobrinho ou compadre de determinadas pessoas.
Os melhores sonhos de todos são aqueles que nos põem a pensar e a mexer.
Os únicos sonhos de que vale a pena falar são os que não nos deixam dormir.
Os portugueses são pouco dados a elogios temem que afecte negativamente a qualidade e positivamente o preço.
Escrever é uma maneira de pensar que não se consegue pelo pensamento apenas.
Todos os constrangimentos sintácticos e gramaticais da escrita, em vez de nos reprimirem, levam nos a encontrar frases que não existiam antes de serem escritas, que não podiam existir de outra forma.
Favorecemos sempre os próximos.
Mas sempre mais os escolhidos do que os destinados.
Ensinaram me a minha mãe e o meu pai que tinha a liberdade de gostar de quem gostasse, fossem ou não de família.
A felicidade, em Portugal, é considerada uma espécie de loucura.
Porquê Porque os Portugueses, quando vêem uma pessoa feliz, julgam que ela está a gozar com eles.
Mais precisamente: com a miséria deles.
Não lhes passa pela cabeça que se possa ser feliz sem ser à custa de alguém.
Por muito educados e esclarecidos que nos julguemos, o nosso metabolismo ainda vive nas cavernas.
É um grunho; um troglodita; um bicho.
Está desatualizadíssimo.
Tem terror de morrer à fome.
Daí que aproveite tudo o que papamos.
No amor, somos todos meninos.
Meninos, pequenos, pequeninos.
Sentimo nos coisas poucas perante a glória descarada de quem amamos.
Quem ama não passa de um recém nascido, que recém nasce todos os dias.