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Poesia sobre Cidade

COMERCIAL DE MARGARINA COLETIVO
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Em uma quarta feira qualquer
Juntei palavras em um texto que mudaria a vida
Colei madrugadeira pelos muros da cidade.
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Amanheceu.
Quem leu, boquiabriu
A lavadeira deixou a trouxa cair
O ciclista por pouco não trombou no poste
A correria foi tanta
Que ventou nas saias das meninas
O semáforo piscando feito luz de Natal
O rasante do pássaro assustou o guri
Que caiu para trás com o peso da mochila
O caderno se abriu
E folhas escritas bateram asas naquela direção
Nuvens escuras foram se despedindo
O sol morninho arrancou suspiros e agasalhos
(Os ousados despiram também outras partes)
Moças desprenderam cabelos, retocaram batom
O casal tímido resolveu se abraçar
A senhorinha girando a bengala no ar
Uma música começou a tocar Aaah!
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E em uma quarta feira qualquer
(Se contar ninguém acredita)
O tempo parou, o povo dançou
E por um minuto eterno a tristeza se foi
Em fileiras sincronizadas
Mãos levantadas, corpos embalados
No compasso da música
Uma chuva multicolorida caiu do céu
Cada gota pintava o cenário
Um sabor diferente em cada cor
Línguas de fora, braços em ondas
Toda dor subindo, girando em espiral
Desconhecidos se abraçaram
Pretos, brancos, ricos ou pobres
Motoristas estacionando os carros
A vaidade, os falsos pudores, a vergonha
Arrastados pela enxurrada multicor
Sorrisos escancarados, mãos dadas
Ritmo que todo mundo sabia de cor
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E em uma quarta feira qualquer
(E pela primeira vez na história)
Um comercial de margarina coletivo
O ódio, o rancor, a inveja, a desumanidade
Feito lagartixas cascudas subindo os muros
Explodiram como pipoca em óleo quente
Desabrochando flores perfumadas
Confortando o coração de toda a gente