Xeque Mate
A meia luz e a fumaça do cigarro deixavam à mostra apenas o contorno de seu rosto bonito.
Do outro lado, alguém tentava decifrá la, com o olhar fixo, insistente.
Estava há poucos metros de suas pernas despudoramente cruzadas em um mini vestido escolhido a dedo para aquela noite.
Embora fingisse indiferença, ela sabia que cada gesto seu era analisado por ele.
O movimento do corpo, o toque aos cabelos, a carícia à borda da taça, o jogo insinuante de cruzar e descruzar as pernas, o cigarro aceso, a fumaça que lhe saía da boca, o olhar malicioso
Ele apenas a olhava, extasiado, deslumbrado.
Vez ou outra tomava ares de que se aproximaria, mas ela o mantinha inerte com um olhar insensível e, ao mesmo tempo, desafiador.
Era excitante torturá lo com aquele jogo de esconde esconde.
De repente, em questão de segundos, ela não estava mais ali.
Desaparecera.
Ele ainda a procurava quando sentiu o gosto gelado da bebida de uma boca quente a devorar lhe os lábios, a língua, o corpo, a alma, a vida, a calma.
E se eu me apaixonar
Ela nada respondeu.
Apenas continuou a consumi lo, parte a parte, em carinhos, carícias, toques, beijos, gemidos, êxtase.
Seria inútil explicar lhe que ela somente aprendera a procurar.
Que ela trazia na alma a eterna insatisfação de quem não sabia encontrar.
Seria inútil dizer lhe para não se apaixonar