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Karine Rosa

Pra seguir em frente
Eu segui em frente.
E o que mais eu poderia fazer Quebrar a casa, desarrumar o quarto, jogar tudo o que me lembrava de você fora E de que isso ia adiantar Isso é coisa de gente que não tem mais o que fazer, minha mãe diria.
No outro dia, eu acordaria e você continuaria aqui.
Eu poderia ter ficado agarrada a minha cama, poderia ter parado de comer, poderia até mesmo ter deixado de sair com meus amigos.
Você sabe, essas coisas que a gente faz quando sai dizendo por aí que está deprimido.
Mas minha depressão nem tentou ser mais forte que você.
No fundo, eu sabia, não importava o que eu fizesse, você não largaria o posto, não abandonaria totalmente meu coração.
Por algum motivo doentio, eu sei que você estará gravado em mim de um jeito meio que permanente.
Eu sei que vou esbarrar com você depois de anos e sentir uma pontada na boca do estômago.
Conheço bem o diagnóstico.
Chama se: falta do que não foi.
Não, eu não sinto saudade do nosso passado.
Tenho carinho, talvez, mas me lembro bem dos motivos que nos fizeram terminar.
Ainda me lembro dos nossos gritos, ainda guardo os motivos das nossas brigas e amargo o gosto das minhas lágrimas.
Sei bem que acabamos porque tínhamos que acabar.
Mas e tudo aquilo que a gente jurou que ia ser A gente jurou que ia ser feliz.
Que acho que foi nossa promessa mais irresponsável.
Como é que se promete algo assim para o outro “Eu vou te fazer feliz ”.
A gente jurou que ia arrumar as coisas, viajar o mundo, conhecer lugares.
Juramos que seríamos um casal de sucesso.
Olha isso: a gente jurou até que ia se amar para sempre.
Talvez seja isso o que dói: cadê o amor que a gente jurou que ia ter
Sinto falta das coisas que poderíamos ter sido.
E acho que você não sai de mim exatamente por esse nosso futuro prometido que não me abandona.
Eu sei, eu sei, eu poderia ter chorado muito.
Você vive dizendo que eu não sofri tanto, que superei rápido, que logo estava com outro.
O que você queria que eu fizesse Morresse, me descabelasse, chorasse até não aguentar É, eu poderia ter feito isso, mas ia fazer passar Já disseram por aí e eu repito: a vida não para, eu continuei tendo que ir para a faculdade, continuei tendo que trabalhar, pagar as contas, sorrir e ser simpática com as pessoas.
Você era importante, mas novidade: há vida além de nós dois.
Não, não vou dizer que te esqueci.
Não vou mentir que passou.
Pra que tudo isso Pra que fingir que você não foi nada, que amar você não foi quase tudo e que te perder não me doeu Só eu sei o buraco que nossa história deixou em mim.
Só eu sei como tive que respirar fundo, engolir em seco e seguir a vida.
Seguir a vida.
Não é pecado, eu juro.
Foi só o que me restou fazer.
Mas esquecer você de vez Em outra vida, quem sabe.

Guarda as declarações decoradas para as menininhas que ainda acreditam em contos de fadas.
Comigo, pode vir tranquilo, desarmado, sem os textos decorados desse papel que te entregaram de príncipe encantado.
Eu também já me despi de todos os sonhos de relacionamentos perfeitos que a vida me trouxe pelo caminho.
Aprendi, na marra, nas caras e nos corações quebrados, que vocês nunca vão funcionar como os príncipes que acordam as belas adormecidas.
Depois disso, sempre me mantive bem acordada.
Eu sei seus defeitos.
Sei cada um deles.
Mania que tenho de observar cada mísera ação das pessoas antes até do primeiro oi.
Te analisei enquanto você sorria despreocupado e deixava o sol iluminar seu cabelo castanho.
Vi como os traços do seu rosto se suavizam quando sua mãe chegava por perto e descobri no brilho dos seus olhos o que é o amor incondicional.
Observei a maneira como você pisca o olho incessantes vezes quando está muito nervoso.
E como coça o queixo sem parar quando não sabe o que responder.
Não precisa mesmo saber o que responder.
Não quero que responda minhas dúvidas da vida.
Talvez, você se veja tentado a questionar o mundo comigo.
Talvez você se assuste.
Eu sou mesmo alguém cheio de falhas.
Tenho buracos em cada partezinha do corpo.
Principalmente, no coração.
Foram as cicatrizes – no corpo e na alma – que os outros antes de você deixaram aqui.
Mas, fica tranquilo, não te quero perfeito.
Pode vir cheio de erros.
Vamos nos despir dessa obrigação de fazer o outro feliz.
Deixa ali no canto do quarto essa necessidade louca de fazer tudo certo.
Eu aceito errar junto.
Eu aceito gritos, pratos quebrados, brigas de tirar o fôlego.
Basta que você diga que está disposto a errar comigo.
E, quem sabe, entre nossos erros, a gente não consiga um ou outro acerto.
Mas não te cobro nada não.
Meu “felizes para sempre” sou eu que construo.
Tô te chamando pra minha vida não pra preencher meus buracos, mas para me dar a mão e me ajudar a tampar minhas feridas.
Te ajudo a cicatrizar as suas também, se quiser.
E, juntos, rimos disso tudo.
Mas não te cobro nada.
Talvez, a gente consiga dar certo.
Talvez, a gente acabe, mesmo com uma história bonita.
Talvez, você vá embora, talvez eu não queira mais ficar.
Mas eu tô aqui, agora: vida e portas abertas pra se você quiser entrar.
Porque, sem te cobrar felicidade, sem te cobrar uma história bonita e sem te cobrar amor, talvez, quem sabe, a gente dê sorte e consiga se amar, ser feliz, ter uma história bonita junto.
Vai que a vida, o destino, ou sei lá, resolvem dar um empurrãozinho.
Quem sabe, até, a gente não se ame até o final dos dias.
Até o fim.

Carta pra você que está chegando
Eu preciso te contar dos que estiveram aqui antes de você.
Antes de qualquer coisa.
Eu preciso falar sobre as cicatrizes, os tombos e os cacos que ainda tentam se juntar.
Você está chegando agora, é novo no jogo, ainda não sabe os atalhos para fugir do game over.
Tô aqui para te dar as dicas, porque eu quero mesmo que você vença as minhas batalhas.
Porque quero que você chegue, abra a porta e se sinta em casa.
De visitas, tô cheia.
Agora, eu quero alguém para ficar.
Já aviso que sou difícil.
Cheia de cascas e camadas protetoras.
Com o passar dos anos, construí meia dúzia de muros à minha volta.
Mas não desista de mim.
Dê voltas e me encontre.
Entre os tijolos, escondem se portas e janelas abertas para você entrar.
Por trás da autossuficiência aparente, tem alguém disposta a amar de novo e de novo e de novo, até, finalmente, acertar.
E o que eu mais quero é acertar com você.
Me ensina também.
Sei que por trás desse sorriso de quem não leva a vida a sério tem as suas próprias decepções.
Me fala daquela última garota que quebrou seu coração.
Me mostra suas feridas, me diz aonde não devo errar.
Eu juro – eu juro – que a última coisa que eu vou querer é te magoar.
(Mas talvez, sem querer, eu te magoe).
Saiba que eu também já errei.
Algumas vezes partiram meu coração, outras, fui eu que quebrei corações alheios.
Eu não sou perfeita.
E eu vou falhar.
Vou gritar, dizer para você ir embora, falar que nunca deveria ter chegado.
Talvez, a gente supere a nossa falta de jeito para o amor e consiga aprender a amar um com o outro.
Talvez, a gente acabe com o mesmo fim de todas as minhas outras histórias mal acabadas, cheias de vazios e sem sorrisos.
Mas eu queria dizer, enquanto você ainda está na porta, que eu estou disposta.
Eu tô largando tudo para tentar com você: meus medos, meus segredos, meus receios.
Tô tirando a armadura porque quem foge do amor o tempo todo só tenta se enganar.
No fim, eu só tô dizendo que amar você é quase como pular do precipício.
Mas, por você, eu pulo.
Eu pulo.