A extrema avareza engana se quase sempre: não há paixão que se afaste mais frequentemente do seu objectivo, nem sobre o qual o presente tenha tanto poder em detrimento do futuro.
Há falsidades disfarçadas que simulam tão bem a verdade, que seria um erro pensar que nunca seremos enganados por elas.
As pessoas falsamente honestas são as que escondem os seus defeitos dos outros e de si mesmo.
As pessoas realmente honestas são as que os conhecem bem e os confessam.
Nada é mais contagioso que o exemplo, e nunca fazemos grande bem nem grande mal sem produzir outros semelhantes.
Imitamos as boas acções por emulação e as más pela malignidade da nossa natureza que a vergonha conservava prisioneira, e que o exemplo põe em liberdade.
Há boas qualidades que degeneram em defeitos quando são naturais e outras que nunca são perfeitas quando adquiridas.
É preciso, por um lado, que a razão nos faça obreiros do nosso bem e da nossa confiança; é preciso, por outro, que a natureza nos dê bondade e coragem.
A bondade natural, que se gaba de ser tão sensível, é muitas vezes abafada pelo mais insignificante interesse.
Parece que o amor próprio é enganado pela bondade e se esquece de si mesmo quando trabalhamos pelos outros.
E, no entanto, é tomar o caminho mais seguro para atingir os seus fins; é emprestar a juros, a pretexto de dar; é, finalmente, conquistar todos de maneira subtil e delicada.
O orgulho tem esquisitices como qualquer outra paixão.
Temos vergonha de confessar que sentimos ciúmes, mas nos vangloriamos de havermos tido, e de sermos capazes de tê lo.
O orgulho tem as suas bizarrias, como as outras paixões: temos vergonha de admitir que sentimos ciúme, mas honramo nos de o ter sentido e de ser capazes de o vir a ter.
Há uma infinidade de comportamentos que parecem ridículos e cujas razões ocultas são muito sábias e muito sólidas.