Toda a obra escrita é a expressão dum conhecimento limitado.
Mas todo o conhecimento limitado está aberto a novas particularidades, até que se apresente a súbita vontade de não ir mais longe.
Os escritores para crianças ou são chatos ou corruptores.
De resto, só escreve expressamente para crianças quem não sabe fazer outra coisa.
As cidades não são pátrias.
É na província que se encontra o carácter e a mística duma nação, e os grandes escritores deixam se amarrar ao espírito das terras nulas e sensatas a que extraem um brilho que a pedra polida da capital não tem.
Na nossa sociedade, que se entende por permissiva, não há afinal homens exemplares.
Há só leis que substituem o exemplo; há só alíneas morais que estão em vez dos actos reais e da sua humanidade.
A existência do homem adulto não encerra senão monotonia.
A paixão não procede das pessoas, mas de algo a que elas têm de obedecer para não cumprirem apenas uma vida sem impulso e sem fantasia.
A essência das coisas não está na filosofia, nem na política, nem em qualquer função intelectual.
Está na reciprocidade do inconsciente que não encadeia só o que é humano, mas até o que é apenas vegetal ou inerte.
Na experiência humana não há unidade, tudo são esforços inéditos; só que muito frequentemente o fracasso os torna iguais entre si.
A crueldade é um dom, se corresponde a uma denúncia da cobardia no seu todo, mas é um vício se é a consagração da parcialidade.
A vingança é uma parcialidade.
A desmesura é parcialidade.
A grandeza é o todo.
O humor é, nas pessoas, um elemento terrivelmente desconhecido.
Pode unir um povo inteiro como o não fazem os costumes e a própria língua.
Disciplinar os povos é sempre a ilusão frenética dos grandes revolucionários.
Falham continuamente.
Não se dominam as energias sociais do mundo senão na medida em que elas tendem a uma rotina que, por sua vez, deixe tranquila a «espontaneidade negativa» do homem.
Só se pode sentir a evidência das coisas até um certo ponto: além disso, ou nos rebaixamos ou nos aproximamos do sentimento superior que nos liberta.
De facto, o verdadeiro estado de liberdade é o de ultrapassar a imaginação.