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Otildo Justino Guido

[à mamã]
Talvez um dia possa poupar o coração de tanto atrofiar se em querer abrasar se no voo dos teus braços; deixar os meus lábios arderem na textura do teu rosto até que as palavras que aprisiono na alma, se manifestem, quando engasgo em querer manifestar a sensibilidade que forma caminhos inacabados que passam por cima dos meus hábitos.
Mas, é do teu olhar que me sei olhar.
Olho te e te sei que me sabes e sei o que esperas que te diga mesmo quando a palavra ficasse gasta de tanto ser falada.
Mesmo que te diga e sinta que não seja o suficiente o que te digo em relação ao que sinto.
Tu recebes com toda ternura e traduzes a tua gratidão num sorriso.
No mesmo sorriso que (re)inventa o mundo, que justaposto aos astros nasce o perfume da manhã.
Não digo te: de morrer a fala e falar te sem fala na linguagem do amor que simplesmente te amo, na mesma miragem de crença e gratidão que as feridas amam a dor, porque não aprendera emudecer o medo e dar voz aos sentimentos ressentidos no mutismo. afirmo: cansa caçar o cansaço do tempo.
Para fazer da minha espera uma outra espera que nasce antes que os tambores toquem na madrugada em ritmos simbólicos.
Gostaria tanto fazer ferver o teu sangue, sem que compreendas que fervo de dúvida que ferverás de emoção quando eu souber ser estranho comigo mesmo.
Ignorando o que não venho sabendo de saber fazer.
Não que queira: talvez o meu coração, de carne e sentimento, endureça e ganhe forma de saudades pela tua ausência; e aí, eu desunido comigo mesmo, saia da minha cabeça e fique perto das tuas cinzas, apenas sentimento: sem meu corpo e sem a razão de Costumes e Princípios e te fale, até chore de gritar mesmo, como os brancos fazem nos filmes.
Como os Homens fazem na vida.
Assim não precisarei precisar que me oiças e nem que me olhes com aquele olhar que me sabe bem decifrar antes de falar.

Quando anunciaste a despedida
a casa toda desabou
ficou escuro lá fora
toda lembrança veio à película
despejou se toda tristeza em mim
não tive um rosto por usar
meus lábios me doeram
fruí escamas nos braços
tive capim na boca
tentei em vão da memória
desprender a saudade
Doeu me amar te.
Olhei os gestos da tua face
impossivelmente abandonável
Demorei me na palavra
e encostei te sem erudição
na lágrima que chovia adentro
afogando o meu céu interior
Doeu me amar te.
Doeu me mais olhar te
despertar promessas e juras
Ai! Feriu me cobrir te de ausências
mas, estavas em mim
desenterrando caminhos
Meus pés envelheceram
Transcrevi te silêncios
Não tive enganos de amor
para subordinar te, vil
Doeu me amar te.
Demorei morrer
impossibilitei me de viver
de nos viver turbulentos
na aurora do arco íris
Oh!
Quando pronunciaste a despedida
todo tumulto abarbou me
tsunamis, sismos: catástrofes
Pupilas entraram me fundo
Meus ossos careceram de carne
Senti te tão perto, tão humana
Senti o mundo a fugir me pelos dedos
Ocupei vazios antigos
arrojado de medo de açoitar me
Doeu me amar te.
Esse sentimento da fala:
pura explicitação da sublimação
amputou me das mãos à poesia
por favor, meu áspero, abjecto amor
desdiga te e leve me contigo
seja para que outra dor for!
Magoa me tanto desviver te
produzir solidão e sofrências
tua despresença
torna me irmão próximo da morte
fatal forma de ilusão e desencanto
É que
o mar é sangue sem cor
impossivelmente real
Não vá, meu amor
até os tambores quebrarem as auroras!