Otildo Justino Guido

Quando anunciaste a despedida
a casa toda desabou
ficou escuro lá fora
toda lembrança veio à película
despejou se toda tristeza em mim
não tive um rosto por usar
meus lábios me doeram
fruí escamas nos braços
tive capim na boca
tentei em vão da memória
desprender a saudade
Doeu me amar te.
Olhei os gestos da tua face
impossivelmente abandonável
Demorei me na palavra
e encostei te sem erudição
na lágrima que chovia adentro
afogando o meu céu interior
Doeu me amar te.
Doeu me mais olhar te
despertar promessas e juras
Ai! Feriu me cobrir te de ausências
mas, estavas em mim
desenterrando caminhos
Meus pés envelheceram
Transcrevi te silêncios
Não tive enganos de amor
para subordinar te, vil
Doeu me amar te.
Demorei morrer
impossibilitei me de viver
de nos viver turbulentos
na aurora do arco íris
Oh!
Quando pronunciaste a despedida
todo tumulto abarbou me
tsunamis, sismos: catástrofes
Pupilas entraram me fundo
Meus ossos careceram de carne
Senti te tão perto, tão humana
Senti o mundo a fugir me pelos dedos
Ocupei vazios antigos
arrojado de medo de açoitar me
Doeu me amar te.
Esse sentimento da fala:
pura explicitação da sublimação
amputou me das mãos à poesia
por favor, meu áspero, abjecto amor
desdiga te e leve me contigo
seja para que outra dor for!
Magoa me tanto desviver te
produzir solidão e sofrências
tua despresença
torna me irmão próximo da morte
fatal forma de ilusão e desencanto
É que
o mar é sangue sem cor
impossivelmente real
Não vá, meu amor
até os tambores quebrarem as auroras!

“O ser humano não precisa de evolução, precisamos, é de revolução humana”
Perguntei ao Harrison Robinson, o que seria revolução humana
Não sabes o que é revolução humana, Otílio Justínio
Até desacertou o meu nome com deliberação de desígnio, arguira que primeiro deve se matar essas coisas de alcunha na revolução humana.
Lhe ripostei, sarcasticamente:
Me diz, tu, o que é revolução humana!
Harrison Robinson fez o demorado encanto de me preceituar a ouvir o poema do bolso:
Revolução humana é:
Quebrar muros invisíveis e o preconceito
Rasgar olhares sujos e poemas obscenos
Desentupir as misérias e esculpir sorrisos
Vitalizar sonhos e abdicar o ódio humano
Ver além da obscuridade do desencanto
Dar trigo quem careça de pão
Dar semente quem necessite de trigo
Dar benevolências quem tenha coração
Negar que o outro passe fome e nudez
Ver um desconhecido como um amigo.
Fiquei imóvel entre sombras que não me eram minhas, desnudado da minha própria consciência.
Antes que lhe ministrasse alguma fala, acrescentou alguns versos no poema:
O amor ocasiona a revolução.
O tempo inventa a evolução.
É urgente produzir a humanização.

O ser humano não precisa de evolução, precisamos, é de revolução humana

Namoro é um contrato de palavras.

Estou com saudades dum lugar que me esqueci do nome.

Eu quero ser
Teu príncipe, teu namorado
Te levar ao paraíso
Teu homem quase perfeito
Teu sabor predilecto
Tua morada, teu peito
Eu só quero ser
Teu sotaque na madrugada
Tua voz ronca na alvorada
Teu parceiro na vida
Te fazer sorrir, felizarda
Eu quero ser
Quem mais te entende
Com um abraço te amolecer
Tua luz, teu anoitecer
Miúda, eu quero ser
Teu barco nas enxurradas
Tua cama, tua almofada
Tua toalha, tua água
Tua eterna perdição
A brisa leve no verão
Quem chega só para te amar
Que desconhece os teus defeitos
Teu fora da lei, doce delito
Eu quero ser
Quem desagua no teu leito
Que te escuta em silêncio
Teu aroma favorito
Teu cobertor, teu enxugador
Tua rosa, teu pólen de amor
Que te namora te conquistando
Que está sempre te esperando
Eu só quero ser
Teu terceiro olho no mundo
Quem beija tua boca
O cara que te deixa louca
Que segura na tua mão
Cúmplice do teu coração
Miúda, eu quero ser
Teu encosto contra a idade
Tua recriada lembrança
Quem recolhe tuas mágoas
Tua esperança, motriz de viver
Eu quero ser
Quem por ti invade o planeta
Assalta a lógica cronológica
Eu só quero ser
Teu cantor, teu poeta
Encurtador da distância geográfica.
Vem ser feliz
Rita, o que me diz