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Textos de Menina Mulher

O mulherão
Peça para um homem descrever um mulherão.
Ele imediatamente vai falar do tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos.
Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80m, siliconada, sorriso colgate.
Mulherões, dentro deste conceito, não existem muitas: Vera Fischer, Leticia Spiller, Malu Mader, Adriane Galisteu, Lumas e Brunas.
Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma a cada esquina.
Mulherão é aquela que pega dois ônibus por dia para ir para o trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.
Mulherão é aquela que acorda de madrugada para pegar a senha da matrícula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão merreca.
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana.
Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento.
Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.
Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos pra natação, busca os filhos na natação, leva os filhos pra cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz.
Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.
Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa pra fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão.
Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expediente de oito horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação.
Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios.
Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio pra azia.
Lumas, Brunas, Carlas, Luanas e Sheilas: mulheres nota dez no quesito lindas de morrer, mas MULHERÃO É QUEM MATA UM LEÃO POR DIA.

O Charme das Feias bonitas
Se você não é nenhuma Gisele Bündchen, não há motivo para se desesperar em frente ao espelho.
Quem dera ser uma deusa, mas não sendo, há chance de ser incluída no time das interessantes.
Junte nove lindas e uma mulher interessante e será ela quem vai se destacar entre as representantes do marasmo estético.
Perfeição, você sabe, entedia.
Mulher interessante é aquela que não nasceu com tudo no lugar, a não ser a cabeça – e, às vezes, nem isso, pois as malucas também têm um charme diabólico.
A mulher interessante não é propriamente bonita, mas tem personalidade, tem postura, tem um enigma no fundo dos olhos, uma malícia que inquieta a todos quando sorri – e um nariz diferente.
São também conhecidas como feias bonitas.
Eu poderia citar um batalhão de feias bonitas que, aqui no Brasil, são públicas e notórias, mas vá que elas não considerem isso um elogio.
Então vou dar um exemplo clássico que vive a quilômetros de distância: Sarah Jessica Parker.
É uma feia lindona.
Uma feia classuda.
Uma feia surpreendente.
Adoro este tipo de visual.
Mulheres com rostos difíceis de classificar, que não se enquadram em nenhum padrão.
Quando Meryl Streep estreou como coadjuvante em Manhattan, filme de Woody Allen, chamou a atenção não só pelo talento, mas pelo seu ar blasé, seu porte altivo e uma sobrancelha que arqueava interrogativamente, como se perguntasse: e aí, você já decidiu se lhe agrado ou não Paralisante.
Esse gênero de mulher não figura nos anúncios da Lancôme e não possui um rosto desenhado com fita métrica: olhos, boca e nariz a uma distância equilibrada um dos outros.
Nada disso.
A feia bonita é aquela que não causa uma excelente impressão à primeira vista.
Ao contrário, causa estranhamento.
As pessoas se questionam.
O que é que essa mulher tem Ela tem algo.
Pronome indefinido: algo.
Ficar bonitinha, muitas conseguem, mas ter algo é para poucas.
Não dá para encomendar num consultório de cirurgia plástica.
Não adianta musculação, dieta, hidratantes.
Feias bonitas têm a boca larga demais.
Ou um leve estrabismo.
Ou um nariz adunco.
Ou seja, este algo que elas têm é algo errado.
Mas que funciona escandalosamente bem.
E há aquelas que não têm nada de errado, mas também nada de relevante.
Um zero a zero completo, e ainda assim se destacam.
Um exemplo Aquela menina que atuou em Homem Aranha e Maria Antonieta, a Kirsten Dunst.
Jamais será uma Michelle Pfiefer, mas a menina tem algo.
Quem dera esse algo fosse vendido em frascos nos freeshops da vida.
Se o fato de ser uma feia bonita é, digamos, uma ótima compensação, ser um feio bonito é o prêmio máximo.
Não sei se você concorda, mas eles são mais atraentes que os bonitos bonitos.
Não que seja tolerável um narigão num homem: ele tem que ter um! Nada de baby face.
É obrigatório uma cicatriz, ou um queixo pronunciado, um olhar caído.
Você está lembrando de um monte de cafajestes, eu sei.
Ou de um monte de italianos.
É esse tipo mesmo, você pegou o espírito da coisa.
Feias bonitas e feios bonitos tornam a vida mais generosa, democrática, divertida e interessante.
Não podemos ter tudo, mas algo se pode ter.