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Texto Solidariedade

Aceito, em nome de Jesus!
Não sei se é só comigo, mas tenho a impressão que minha vida se repete, ou situações semelhantes voltam a acontecer, mudando somente a situação de status: ora paciente, ora operante.
Numa ocasião, esperando a minha vez para pegar carona, sentada no meio fio, fui pega de medo e surpresa.
O colega da vez bate o dedão para um sedam modelo Fusion e o piloto, mesmo guiando a máquina sozinho, ignorou o pedido.
Doze horas, um calor irritante de setembro, com uma sensação térmica acima dos 40 Celsius.
Acredito, numa ação impensada de ira, o colega fez o velho sinal para o condutor de “vai tomar no ”, o carro já estava a mais de 100 m, mas foi o suficiente para a freada brusca e retorno imediato.
Num primeiro momento, fiquei imóvel, sentada e o máximo que imaginei foi: Elvis está morto e nós somos os da vez.
Achei que o cidadão iria nos atropelar pela arrancada que iniciou em nossa direção.
Não conseguia me levantar: pensava em correr, deixar o colega ser atropelado sozinho, afinal não tinha sido eu a acenar obscenamente, só estava esperando a vez, como todo agricolino estudante já fez.
Para surpresa, o carro é freado em cima da gente.
Abaixa os vidros e diz “Entrem aí”.
Ouvi o colega gritando meu nome e um “vai ficar aí é ”.
Entrei.
Percebi que os bancos ainda estavam todos encapados com o plástico da fábrica.
“Desculpas” disse o motorista.
“Sabe pensei comigo, não vou deixar esses moleques sujarem meu carro, outro pode dar carona a eles.
Você me fez sentir o calor que tava sentido neste sol com sua atitude, percebi que estava sendo egoísta.
Desculpas mesmo”.
Tereza de Calcutá, nos ensina que a diferença entre o amor e a bondade está na atitude.
A pessoa boa não retribui o mal; e quem ama pratica o bem.
Meu colega retribuiu o mal e o motorista anônimo teve a chance de praticar o bem
Hoje na caminhada noturna diária, passei por uma mãe com seu filho.
Num primeiro momento, achei que eles estavam colocando a sacola do lixo.
Fiquei com vergonha de olhar, estava na frente de um hotel “chique” da cidade, podia ter mais gente observando, pensei.
Não aguentei.
Voltei os olhos e o movimento e percebi que estavam separando o que podia ser aproveitado, afinal no depósito de lixo de um hotel, logicamente, deve ter muita coisa útil.
O menino pálido e magrelo olhou me singelamente.
Pensei no que tinha visto nos últimos dias na mídia.
“Não apoie o Criança Esperança, doe para a APAE de sua cidade! ”.
Tem uma cultura nojenta neste País, que incentiva a protestar contra o que é bom.
NÃO TEM CARIDADE MELHOR OU PIOR.
A Pastoral da Criança não é melhor que a APAE, que também não é melhor ou pior que qualquer outro programa ou entidade ou pessoa que doe, ajude quem está vulnerável.

O HOMEM DO COBERTOR VELHO
Todos os dias no mesmo horário eu descia do ônibus e subia a passarela para pegar a segunda condução em direção ao trabalho.
Quase sempre estava atrasado e passava feito um foguete, sem olhar para os lados.
Naquele local, entre o ponto e a passarela, desviava de algo que atrapalhava o meu caminho.
Certa vez me esqueci de mudar o horário de verão, e saí de casa com uma hora de antecedência fui perceber apenas quando estava no ônibus.
Estava mais tranquilo e sereno, andando com calma e olhando o caminho percorrido, o que nunca acontecia.
Ao descer do ônibus, reparei o que era aquela coisa que eu desviava todos os dias entre o ponto e passarela.
Tratava se de um velho cobertor, cinza, áspero, com um volume por baixo.
Curioso, levantei o velho cobertor e dentro havia um homem dormindo, que nem percebeu que o descobri.
O homem debaixo do cobertor velho fedia a cachaça.
Talvez por isso não tenha percebido que levantei o cobertor.
Em frente ao ponto e a passarela havia uma padaria.
Fui até lá e pedi um chocolate quente e um pão com manteiga na chapa, e levei ao homem debaixo do cobertor velho.
Mesmo receoso, o rapaz agradeceu.
Passei a fazer do ato a minha rotina.
Todos os dias eu comprava um chocolate quente e um pão com manteiga, e levava ao homem que sempre estava no mesmo local.
Um dia eu entreguei o pão com manteiga e fiquei olhando o homem degustá lo.
Ele, com a boca cheia e deixando cair migalhas no velho cobertor, indagou me:
Por que me ajuda
Fiquei refletindo por um tempo antes de responder:
Acho que não preciso de motivo para ajudá lo.
Ele então se levantou e saiu andando pela primeira vez desde que o conhecera.
Todos os dias eu o aconselhava a sair daquele local, procurar algo melhor para a vida.
Queria que o homem reagisse, pois tratava se de um bom rapaz, porém perdido.
Em um certo dia que desci do ônibus, segui em direção à passarela, e só estava o cobertor velho no chão.
Mesmo assim, comprei o achocolatado e o pão com manteiga e deixei no mesmo lugar de sempre.
Ele nunca mais apareceu no local.
Escolhi, então, pressupor que o homem melhorou de vida, pois, caso contrário, ele teria o alimento naquele cantinho.
Na padaria o proprietário me questionou:
Por que você ajudava aquele homem Era apenas um bêbado de rua.
Respondi:
Porque aquele homem precisava de mim, mesmo que por apenas um tempo.
E eu preciso de pessoas melhores no mundo.

Ainda na Praça do Russel encontro com 'Biafra' 7h25.
Pode ser visto bem cedo com uma espécie de lata de tinta um pouco mais profunda onde guarda suas coisas conectada a um pneu de bicicleta, que serve como uma alça para carregar sua bolsa no ombro.No meio da tampa, vejo colado uma foto do cantor Biafra.
Tudo toscamente feito.
Ou nem feito.
Biafra aprendeu a não descartar as coisas tão rápido.
Por isso, seu latão, ou melhor, sua bolsa, é composta também por uma série de pregos martelados ao redor da tampa, dando a forma da desgraça.
Nos espaços entre os pregos, observo formigas num entra e sai como se o latão fosse um apartamento de formigas.
Ele diz: "Ah se elas comerem toda a minha maça.
Tive que usar os pregos como solda, e meu baú deixou de ser impermeável", justifica.
Pergunto se ele pode abrir seu armário para eu observar melhor.
"Minha vida é um livro aberto, pegue você mesmo".
Abro o latão e uma camisa do Botafogo, número 7.
Em seguida, formigas.
Logo depois, a maça, um pente, uma faca pequena e uma carteira do exército com sua foto, 19 anos, servindo no Forte de Copacabana.
Apenas isso.
Pergunto sobre a blusa do Botafogo enquanto guardo tudo novamente no latão e ele responde: "Não gosto de futebol.
Achei essa camisa jogada no aterro e peguei".
Pergunto sobre o pente: "Tem uma moça que gosta de mim, e como não sei quando ela aparecerá novamente é bom estar sempre com ele aí." Não pergunto sobre a maçã, pois, por precaução, já me antecipo: "você não tem cara de assaltante Biafra, ou, se tem, agora não tem mais porque sou eu, então a maçã é pra comer e a faca pra cortá la.
Ele nada responde.
Pergunto sobre a foto do Exército no Forte de Copacabana e ele diz que é apenas uma foto.
"Isso aí é melhor não lembrar".
Pergunto se ele deseja que eu coloque novamente as formigas no latão e tento quebrar uma potencial lembrança ruim.
Ele reponde então que poderia fazer um latão pra mim, pois teria me achado "um cara legal" e "diferente".
Digo que meu negócio é mulher e ele cai na risada.
Mas, depois da brincadeira, observo a mega elefantíase ou algo que não seja menos do que isso em uma das suas pernas.
"Pô, Biafra, e eu que sou diferente O que você arrumou aí na perna, cara, já foi num hospital " Ele reponde: "Fui no Rocha Maia, UPA, num monte de lugar e todo mundo olha e diz que tenho que ir a outro lugar.
Desisti faz tempo, Ninguém encosta." Digo apenas "entendi" e sigo meu caminho.
Fato é que nunca mais conseguirei escutar as palavras lata, latão, tinta ou latas de tinta, e não lembrar do Biafra.
Quis tocar no assunto "Deus", mas só deu tempo de escutá lo dizer que é algo difícil de acreditar.
E completou: "Não pra você rapaz, e sim pra mim".
Possivelmente não terá nem um enterro em cova rasa pago pela municipalidade, pois a mesma não quis nem tratar a sua perna.
Uma coisa, porém, é certa: irá para o mesmo lugar onde vão os reis de verdade.