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Mensagens de Martha Medeiros

Aprendendo a desaprender
Passamos a vida inteira ouvindo os sábios conselhos dos outros.
Tens que aprender a ser mais flexível, tens que aprender a ser menos dramática, tens que aprender a ser mais discreta, tens que aprender praticamente tudo.
Mesmo as coisas que a gente já sabe fazer, é preciso aprender a fazê las melhor, mais rápido, mais vezes.
Vida é constante aprendizado.
A gente lê, a gente conversa, a gente faz terapia, a gente se puxa pra tirar nota dez no quesito "sabe tudo".
Pois é.
E o que a gente faz com aquilo que a gente pensava que sabia
As crianças têm facilidade para aprender porque estão com a cabeça virgem de informações, há muito espaço para ser preenchido, muitos dados a serem assimilados sem a necessidade de cruzá los: tudo é bem vindo na infância.
Mas nós já temos arquivos demais no nosso winchester cerebral.
Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar arquivos antigos.
E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla.
Antes de aprender, é preciso dominar a arte de desaprender.
Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no caminho.
Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros.
Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado.
Desaprender a esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia,é melhor acreditar no poder da nossa voz.
Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os dias passam cheios de oportunidades.
A solução é voltar ao marco zero.
Desaprender para aprender.
Deletar para escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida.
Basta desaprender o receio de mudar.

Diminutivos
Domingo que vem, Mario Quintana faria cem anos.
Um poeta superlativo,
que de franzino só tinha a aparência.
Mas houve quem tentasse fazê lo
parecer menor do que era.
É sabido que certa vez um figurão disse a ele:
"Gostei muito dos seus versinhos", no que Quintana rebateu: "Obrigado
pela sua opiniãozinha".
Diminutivos caem bem quando aplicados aos nomes próprios.
Verinha,
Tavinho, Soninha.
Há até quem tenha recebido este carinho já na certidão
de nascimento: a maioria das Terezas que eu conheço são, na verdade,
Terezinhas, assim registradas em cartório.
No mais, os diminutivos são
aceitáveis no universo infantil, quando a vida parece o Minimundo.
"Gostou do brinquedinho " "Quer mais uma bananinha "
E ficamos por aqui.
Conversa entre gente grande não comporta excesso
de "inhos" e "inhas", a não ser que se esteja a serviço de um plano de
tortura.
Uma vez, entrei numa loja cuja funcionária conseguiu abalar meus
nervos.
"Oi, amorzinho, posso te ajudar " "Qual é o teu nomezinho "
"Esta blusinha vai ficar uma gracinha".
Parecia que eu estava na Saci.
Lembra da Saci, aquela loja de roupa infantil do tempo em que criança
se vestia de criança Não agüentei nem dois minutos, fui embora antes
que ela me fizesse regredir ao útero materno.
Tem aquela situação clássica: quando te chamam de filhinha.
Uma vez
testemunhei um palestrante responder assim à pergunta de uma moça
na platéia: "Veja bem, filhinha " Eu teria me levantado e dado boa noite.
Atender por filhinha e filhinho, só se forem seus pais chamando, e eles
sempre lhe chamarão deste modo, mesmo que você seja um filhão de
57 anos com 1m90cm de altura.
Escolha: ganhar um beijinho ou um beijo Descolar um dinheirinho ou
ganhar dinheiro Comprar um carrinho ou um carro A maneira como
falamos revela como nos sentimos: se fazendo conquistas ou recebendo
esmolas da vida.
Para as gurias: jamais tolere ser chamada de mulherzinha.
Imediatamente você estará permitindo que lhe etiquetem
as piores qualificações, já que mulherzinha é fragilzinha,
dependentezinha, medrosinha, boazinha.
Que boazinha,
o quê.
Mulher tem que ser boa.
Ou má.
Melhor se precaver contra os que se aproximam cheios de
diminutivos.
Pode ser afeto, mas também pode ser ódio.
Quando uma mulher chama outra de "queridinha", está,
no fundo, querendo saltar na jugular da querida.
Quando
um homem diz: "Vou ali falar com aquele carinha", há
grande chance de o papo terminar em pancadaria.
Pra completar, tem aqueles que aprontam com você e
depois dizem "foi brincadeirinha".
Cuidado com tanta meiguice.

Razoavelmente Felizes
Lá vai ela, toda segura com seu casaquinho Chanel, comandar mais uma reunião da empresa, a superprofissional, mulher independente, decidida, bonita, bem resolvida, com saldo invejável no banco, amigos diversos, saúde pra dar e vender.
Ela é razoavelmente feliz.
Seria estupidamente feliz se tivesse um cara esperando por ela em casa pra fazer uma massagem nos pés e dividir uma pizza.
Está sem namorado desde antes de Cristo.
Que tal aquele garotão ali, não estará avulso, disponível Não, não estará.
O garotão sarado tem uma namorada linda, eles correm no calçadão todas as manhãs, parecem um casal de propagandas de leite desnatado, e não pense que são dois descerebrados: são inteligentes, belos, saudáveis, possuem um bom papo, estão de bem com a vida, adoram viajar pra Europa, comprar livros de arte e alugar DVDs.
Mas não têm feito nada disso, correm no calçadão porque é de graça, nuca estiveram tão duros.
Ela, arquiteta, está sem um projeto há cinco meses.
Ele, engenheiro e igualmente desempregado, tem segurando a barra dando aula particular de italiano.
Sabe quantas pessoas estão a fim de aprender italiano
Aquela senhora ali quer.
Está doente para aprender italiano.
Já se aposentou, os filhosestão bem criados e distribuídos pelo mundo, e o marido segue ativa em todos os sentidos.
Ela nunca se sentiu tão linda depois que fez vários reparos faciais e vive num megaapartamento com vista para todo o azul e todo o verde da cidade, e o tempo que lhe sobra é igualmente escancarado: está lhe faltando uma compromisso, uma ocupação, um sentido para a vida.
Aprender italiano, fazer origami, um curso de roteiros, alguém leh dê uma idéia que a deixe mais do que razoavelmente feliz, que a deixe insuportavelmente feliz.
“Vendem se idéias”, está no anúncio da agência de publicidade cujo dono é aquele sujeito ali bem de grana, bem de mulher, bem realizado no ofício que escolheu por conta dos prêmios que abocanhou.
Mas ele acorda com dores lombares, tem tido uns acessos de tosse, está com os dias contados, é no que pensa dia e noite, o coitado.
Não adianta o médico dizer que sua saúde está perfeita e que vai chegar inteiraço aos 100 anos, ele se sente condenado, vive e ama como se não houvesse amanhã, igualzinho à música do Renato Russo.
O cara vive razoavelmente feliz suas 24 horas de cada vez, mas seria diabolicamente feliz sem a hipocondria, sem as palpitações que não acusam nada além de ansiedade.
A felicidade é uma mesa de três pés, há sempre uma pendência.
Equilíbrio total, todos os lados funcionando, nadinha pra reclamar Impossível.
A vida não teria a mínima credibilidade sem o pedaço que falta.

RELAÇÕES VIRTUAIS
Fui absolutamente rendida pelo poder das relações virtuais.
Acredito que é possível conhecer alguém por e mail, se apaixonar por e mail, odiar por e mail, tudo isso sem jamais ter visto a pessoa.
As palavras escritas no computador podem muito.
Mas nem sempre enxergam a verdade.
São sete horas de uma manhã chuvosa.
Você não dormiu bem à noite.
Põe pra tocar um som instrumental que deixa suas emoções à flor da pele.
Vai para o computador e começa a escrever para alguém especial as coisas mais íntimas que lhe passam no coração.
Chora.
Escreve.
Olha para a chuva.
Escreve mais um pouco.
Envia.
São onze horas da noite deste mesmo dia.
O destinatário da sua mensagem está dando uma festa.
Todo mundo fala alto, ri muito, rola a maior sonzeira.
Ele pega uma cerveja e dá uma escapada até o computador.
Abre o correio.
Está lá a mensagem.
Um texto longo que ele lê com pressa.
Destaca algumas palavras: "a saudade é tanta sozinha demais dividir o que sinto " Papo brabo.
Responderá amanhã.
Deleta.
Alguém pode escrever com raiva, escrever com dor, escrever com ironia, escrever com dificuldade, escrever debochando, escrever apressado, escrever na obrigação, escrever com segundas intenções.
Nada disso chegará no outro lado da tela: a pressa, a hesitação, a tristeza.
As palavras chegarão desacompanhadas.
Será preciso confiar no talento do remetente em passar emoção junto de cada frase.
Como pouquíssimas pessoas têm esse dom, uma mensagem sensível poderá ser confundida com secura, tudo porque faltou um par de olhos, faltou um tom de voz.
Se você passou a desprezar alguém, pode escrever "não quero mais te ver".
Se você ama muito alguém, mas a falta de sintonia lhe vem machucando, pode escrever "não quero mais te ver".
Uma mesma frase e duas mensagens diferentes.
Palavras são apenas resumos dos nossos sentimentos profundos, sentimentos que para serem explanados precisam mais do que um sujeito, um verbo e um predicado.
Precisam de toque, visão, audição.
Amor virtual é legal, mas o teclado ainda não dá conta de certas sutilezas.

Cardápio da alma
Arroz, feijão, bife, ovo.
Isso nós temos no prato, é a fonte de energia que nos faz levantar de manhã e sair para trabalhar.
Nossa meta primeira é a sobrevivência do corpo.
Mas como anda a dieta da alma
Outro dia, no meio da tarde, senti uma fome me revirando por dentro.
Uma fome que me deixou melancólica.
Me dei conta de que estava indo pouco ao cinema, conversando pouco com as pessoas, e senti uma abstinência de viajar que me deixou até meio tonta.
Minha geladeira, afortunadamente, está cheia, e ando até um pouco acima do meu peso ideal, mas me senti desnutrida.
Você já se sentiu assim também, precisando se alimentar
Revista, jornal, internet, isso tudo nos informa, nos situa no mundo, mas não sacia.
A informação entra dentro da casa da gente em doses cavalares e nos encontra passivos, a gente apenas seleciona o que nos interessa e despreza o resto, e nem levantamos da cadeira neste processo.
Para alimentar a alma, é obrigatório sair de casa.
Sair à caça.
Perseguir.
Se não há silêncio a sua volta, cace o silêncio onde ele se esconde, pegue uma estradinha de terra batida, visite um sítio, uma cachoeira, ou vá para a beira da praia, o litoral é bonito nesta época, tem uma luz diferente, o mar parece maior, há menos gente.
Cace o afeto, procure quem você gosta de verdade, tire férias de rancores e mágoas, abrace forte, sorria, permita que lhe cacem também.
Cace a liberdade que anda tão rara, liberdade de pensamento, de atitudes, vá ao encontro de tudo que não tem regras, patrulha, horários.
Cace o amanhã, o novo, o que ainda não foi contaminado por críticas, modismos, conceitos, vá atrás do que é surpreendente, o que se expande na sua frente, o que lhe provoca prazer de olhar, sentir, sorver.
Entre numa galeria de arte.
Vá assistir a um filme de um diretor que não conhece.
Olhe para sua cidade com olhos de estrangeiro, como se você fosse um turista.
Abra portas.
E páginas.
Arroz, feijão, bife, ovo.
Isso me mantém de pé, mas não acaba com meu cansaço diante de uma vida que, se eu me descuido, torna se repetitiva, monótona, entediante.
Mas nada de descuido.
Vou me entupir de calorias na alma.
Há fartas sugestões no cardápio.
Quero engordar no lugar certo.
O ritmo dos dias é tão intenso que às vezes a gente esquece de se alimentar direito.

Quando o corpo fala
Nunca tinha escutado o nome de Louise L.
Hay, que, pelo que eu soube, é uma psicóloga americana com vários livros publicados e traduzidos para diversos idiomas, inclusive para o português.
Me parece que é de auto ajuda, a julgar pelos títulos: Como curar sua vida e outros do gênero.
Como se existisse fórmula mágica para alguma coisa.
Se esses manuais funcionassem, seríamos todos belos, ricos, bem casados, desenvoltos, empreendedores, bambambãs em tudo.
Mas um dos temas que ela trata é bastante interessante e já inspirou vários batepapos entre amigos.
Ela diz que todas as doenças que temos são criadas por nós.
Pô, Louise.
Como assim, “criadas” Fosse simples desse jeito, bastaria a força da mente para evitar que o vírus da gripe infectasse o ser humano.
Porém, se não levarmos tudo o que ela diz ao pé da letra, se abstrairmos certos exageros, vamos chegar a um senso comum: nós realmente facilitamos certas invasões ao nosso corpo.
É o que se chama somatizar, ou seja, é quando uma dor psíquica pode se manifestar fisicamente.
Muitas vezes acontece, sim.
“Todas as doenças têm origem num estado de não perdão”, diz a psicóloga.
“Sempre que estamos doentes, necessitamos descobrir a quem precisamos perdoar.” Mais uma vez, o exagero, já que “sempre” é um amontoado de tempo que não sustenta nenhuma teoria.
Mas ela insiste: “Pesar, tristeza, raiva e vingança são sentimentos que vieram de um espaço onde não houve perdão.
Perdoar dissolve o ressentimento.”
Pois é, o perdão.
Outro dia estava lendo um verso de uma poeta que já citei em outra oportunidade, a Vera Americano, em que ela diz: “Perdão/ duro rito/ da remoção do estorvo”.
É difícil perdoar, mas que faz bem à saúde, não tenho a menor dúvida.
Quanto mais leve a alma, mais forte o organismo.
Por que não tentar
Louise L.
Hay acredita tanto, mas tanto nisso, que chegou a fazer uma lista de doenças e suas prováveis causas.
Exemplo: apendicite vem do medo.
Asma, de choro contido.
Câncer, de mágoas mantidas por muito tempo.
Derrame, da rejeição à vida.
Dor de cabeça vem da autocrítica.
Gastrite, de incertezas profundas.
Hemorróidas vem do medo de prazos determinados e raiva do passado.
A insônia vem da culpa.
Os nódulos, do ego ferido.
Sinusite é irritação com pessoa próxima.
Eu sei e os leitores também sabem que não é bem assim, que isso é uma generalização e que há vários outros fatores em jogo, mas não custa prestarmos atenção na interferência que nossos sentimentos têm sobre nosso corpo, assim poderemos ajudar no tratamento sendo menos tensos e angustiados.
Para quem é 100% cético, tudo isso é balela.
Já fui desse modo.
Tempos atrás, não daria a mínima para as afirmações de Louise L.
Hay.
Hoje me considero 70% cética e ainda pretendo reduzir este índice, pois reconheço que os meus parcos 30% de crença no que não é cientificamente provado é que me salvam de uma úlcera.

OS TAMANHOS DAS PESSOAS
Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento.
Uma pessoa é enorme para você, quando fala do que leu e viveu,
quando trata você com carinho e respeito,
quando olha nos olhos e sorri destravado.
É pequena para você quando só pensa em si mesma,
quando se comporta de uma maneira pouco gentil,
quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar
o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade, o carinho,
o respeito, o zelo e, até mesmo, o amor.
Uma pessoa é gigante para você quando se interessa pela sua vida,
quando busca alternativas para o seu crescimento,
quando sonha junto com você.
E pequena quando desvia do assunto.
Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende,
quando se coloca no lugar do outro,
quando age não de acordo com o que esperam dela,
mas de acordo com o que espera de si mesma.
Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por
comportamentos clichês.
Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas.
Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande.
Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.
É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas que se agigantam nas críticas e se encolhem quando estão diante dos olhos que sabem "seus segredos íntimos e suas atitudes covardes fruto de sua própria insegurança".
Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros,
mas de ações e reações, de expectativas e frustrações.
Uma pessoa é única ao estender a mão; e ao recolhê la inesperadamente,
se torna mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes.
Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande é a sua sensibilidade, sem tamanho
E ainda dizem que "interferência" é atrapalhar o caminhar do próximo.
Na maioria das vezes é despertar a "coragem e a capacidade" nos covardes e incompetentes.
A esperança está na certeza que estes se rendem diante da própria imagem diante do espelho que se olham a cada dia mais infelizes.

QUERER MESMO!
É difícil conseguir o que se quer.
Só se torna menos difícil quando se
quer mesmo!
O navegador Amyr Klink, ao ser perguntado por um repórter sobre o que
sentia a respeito das pessoas que passam 30 anos trabalhando no mesmo
escritório, sentadas a vida inteira diante da mesma escrivaninha,
respondeu: "Inveja".
Klink admira quem consegue ser feliz numa rotina
imutável e tediosa.
Como ele não consegue, sai pelo mundo em busca de
desafios.
Foi uma resposta provocativa.
Inveja é justamente o que nós, seres
confortavelmente acomodados, sentimos de Amyr Klink quando o vemos
excursionar por cenários glaciais de tirar o fôlego e fazendo a superação
dos seus medos a sua rotina.
Qual o segredo desse cara, afinal, para
conciliar família e aventura A gente também adoraria essa vida, mas a
diferença entre ele e nós, acreditamos ingenuamente, é que ele tem
patrocínio para sua falta de juízo, enquanto que nós temos juízo de sobra e
dinheiro contadinho no final do mês.
Na verdade, nossa resignação é conveniente, já que realizar sonhos dá muito
trabalho.
A única diferença entre ser um navegador e ser uma economista que
sonha em ser um navegador é que um quis mesmo.
O outro não quis tanto
assim.
Para romper convenções, e arriscar se no desconhecido, é preciso querer
mesmo.
Querer mesmo escalar uma montanha, querer mesmo surfar uma onda
assassina, querer mesmo filmar um documentário na África, querer mesmo ser
correspondente de guerra, querer mesmo trabalhar na Nasa, só para citar
outras aventuras supostamente inatingíveis.
Querer mesmo, em vez de apenas
querer, abre a cancela de qualquer fronteira, seja ela geográfica ou
emocional.
Antes de alcançar os pontos mais indevassáveis da Antártica a bordo de
barcos equipados com alta tecnologia, Klink remou bastante, não ficou em
casa mentalizando seu sonho.
Querer mesmo significa abrir mão de uma série
de confortos, tomar muito chá de banco, ver inúmeras idéias darem errado
antes de darem certo.
E, em troca, ser chamado de doido varrido.
Querer, a gente quer muita coisa.
Mas quase sempre é um querer preguiçoso,
um querer que não nos impulsiona a levantar da cadeira, ainda mais quando
nosso projeto tem 0,5% de chance de sucesso.
É difícil conseguiu o que se
quer.
Só se torna menos difícil quando se quer mesmo.
Pena que alguns só
querem mesmo é ser rico ou ser gostosa, para isso fazendo coisas muito mais
insanas do que faz Amyr Klink.
O que todos deveriam querer, mas querer
mesmo, é fugir da mediocridade.

Apesar De
Apesar de ela sempre reclamar do corte de cabelo dele e de também criticar o seu guarda roupa (“onde é que você desencavou esta calça amarela” ), ele segue adorando esta ranzinza porque ninguém sabe, como ela, fazê lo se sentir tão imprescindível na vida de alguém.
Apesar de ele nunca querer sair com os amigos dela e implicar com o jeito que ela dirige, ela não o abandona nem sob decreto, porque ninguém, como ele, sabe fazê la se sentir tão desejada.
Não lembro quem disse que a gente gosta de uma pessoa não por causa de, mas apesar de.
Gostar do que é gostável é fácil: gentileza, bom humor, inteligência, simpatia, tudo isso a gente tem em estoque na hora em que conhece uma pessoa e resolve conquistá la.
Os defeitos ficam guardadinhos nos primeiros dias e só então, com a convivência, vão saindo do esconderijo e revelando se no dia a dia.
Você então descobre que ele não é apenas gentil e doce, mas também um tremendo casca grossa quando trata os próprios funcionários.
E ela não é apenas segura e determinada, mas uma chorona que passa 20 dias por mês com TPM.
E que ele ronca, e que ela diz palavrão demais, e que ele é supersticioso por bobagens, e que ela enjoa na estrada, e que ele não gosta de criança, e que ela não gosta de cachorro, e agora Agora convoquem o amor pra resolver esta encrenca.
O par ideal não existe.
Esta tal de alma gêmea é uma invenção que colou não sei como, porque é só pensar um pouco pra ver que não faz sentido: seria uma sorte excepcional sua alma gêmea morar na mesma cidade, frequentar o mesmo clube e o mesmo bairro que você.
Sua alma gêmea pode muito bem viver em Kuala Lampur ou em Helsinque, como é que você foi cair nos braços do primeiro candidato ao posto sem dar um giro pelo mundo antes O que existe é uma necessidade de extravasar nossos sentimentos mais nobres, uma vontade maluca de pertencer emocionalmente a alguém.
Existe um sexto sentido que nos conduz em direção a uma determinada pessoa, existe uma vontade de estar junto, de trazê la para o nosso mundo e também de entrar no mundo dela, existe uma aversão à solidão que nos impulsiona para o desconhecido – ou para a desconhecida.
E estes seres estranhos são gentis, bem humorados, inteligentes, simpáticos, e o que mais Ele deixa a casa esculhambada, ela é péssima cozinheira.
Ele é pão duro, ela gasta insanamente.
Ele se irrita quando seu time perde, ela desmorona quando é criticada.
Ele tem medo de altura, ela tem medo de tempestade.
Ele chega atrasado, ela nunca está pronta.
Ele é muito distraído, ela é muito ciumenta.
Ele não gosta de sair, ela não gosta de ler.
Ele dorme tarde, ela tem insônia.
Ele é gremista doente, ela nem sabe o que é um escanteio.
Mas se adoram, apesar de.
J.
de Sta Catarina

Quando falamos em virgindade, logo pensamos em sexo, e a partir do dia que o experimentamos, o mundo parece perder seu mistério maior.
Não somos mais virgens que grande ilusão de maturidade.
Virgindade é um conceito um tanto mais elástico.
Somos virgens antes de voltar sozinhos do colégio pela primeira vez.
Somos virgens antes do primeiro gole de vinho.
Somos virgens antes de conhecer Nova York.
Somos virgens antes do primeiro salário.
E podemos já estar transando há anos e permanecermos virgens diante de um novo amor.
Por mais que já tenhamos amado e odiado, por mais que tenhamos sido rejeitados, descartados, seduzidos, conquistados, não há experiência amorosa que se repita, pois são variadas as nossas paixões e diferentes as nossas etapas, e tudo isso nos torna novatos.
As dores, também elas, nos pegam despreparadas.
A dor de perder um amigo não é a mesma de perder um carro num assalto, que por sua vez não é a mesma de perder a oportunidade de se declarar para alguém, que por outro lado difere da dor de perder o emprego.
Somos sempre surpreendidos pelo que ainda não foi vivido.
Mesmo no sexo, somos virgens diante de um novo cheiro, de um novo beijo, de um fetiche ainda não realizado.
Se ainda não usamos uma lingerie vermelha, se ainda não fizemos amor dentro do mar, se ainda cultivamos alguns tabus, que espécie de sabe tudo somos nós
Eu ainda sou virgem da neve, que já vi estática em cima das montanhas, mas nunca vi cair.
Sou virgem do Canadá, da Turquia, da Polinésia.
Sou virgem de helicóptero, Jack Daniels, revólver, análise, transa em elevador, LSD, Harley Davidson, cirurgia, rafting, show do Neil Yong, siso e passeata.
A virgindade existencial nos acompanha até o fim dos nossos dias, especialmente no último, pois somos todos castos frente à morte, nossa derradeira experiência inédita.
Enquanto ela não chega, é bom aproveitar cada minuto dessa nossa inocência frente ao desconhecido, pois é uma aventura tão excitante quanto o sexo e não tem idade pra acontecer.

Apesar de ela sempre reclamar do corte de cabelo dele e de também criticar o seu guarda roupa (“onde é que você desencavou esta calça amarela” ), ele segue adorando esta ranzinza porque ninguém sabe, como ela, fazê lo se sentir tão imprescindível na vida de alguém.
Apesar de ele nunca querer sair com os amigos dela e implicar com o jeito que ela dirige, ela não o abandona nem sob decreto, porque ninguém, como ele, sabe fazê la se sentir tão desejada.
Não lembro quem disse que a gente gosta de uma pessoa não por causa de, mas apesar de.
Gostar do que é gostável é fácil: gentileza, bom humor, inteligência, simpatia, tudo isso a gente tem em estoque na hora em que conhece uma pessoa e resolve conquistá la.
Os defeitos ficam guardadinhos nos primeiros dias e só então, com a convivência, vão saindo do esconderijo e revelando se no dia a dia.
Você então descobre que ele não é apenas gentil e doce, mas também um tremendo casca grossa quando trata os próprios funcionários.
E ela não é apenas segura e determinada, mas uma chorona que passa 20 dias por mês com TPM.
E que ele ronca, e que ela diz palavrão demais, e que ele é supersticioso por bobagens, e que ela enjoa na estrada, e que ele não gosta de criança, e que ela não gosta de cachorro, e agora Agora convoquem o amor pra resolver esta encrenca.
O par ideal não existe.
Esta tal de alma gêmea é uma invenção que colou não sei como, porque é só pensar um pouco pra ver que não faz sentido: seria uma sorte excepcional sua alma gêmea morar na mesma cidade, frequentar o mesmo clube e o mesmo bairro que você.
Sua alma gêmea pode muito bem viver em Kuala Lampur ou em Helsinque, como é que você foi cair nos braços do primeiro candidato ao posto sem dar um giro pelo mundo antes O que existe é uma necessidade de extravasar nossos sentimentos mais nobres, uma vontade maluca de pertencer emocionalmente a alguém.
Existe um sexto sentido que nos conduz em direção a uma determinada pessoa, existe uma vontade de estar junto, de trazê la para o nosso mundo e também de entrar no mundo dela, existe uma aversão à solidão que nos impulsiona para o desconhecido – ou para a desconhecida.
E estes seres estranhos são gentis, bem humorados, inteligentes, simpáticos, e o que mais Ele deixa a casa esculhambada, ela é péssima cozinheira.
Ele é pão duro, ela gasta insanamente.
Ele se irrita quando seu time perde, ela desmorona quando é criticada.
Ele tem medo de altura, ela tem medo de tempestade.
Ele chega atrasado, ela nunca está pronta.
Ele é muito distraído, ela é muito ciumenta.
Ele não gosta de sair, ela não gosta de ler.
Ele dorme tarde, ela tem insônia.
Ele é gremista doente, ela nem sabe o que é um escanteio.
Mas se adoram, apesar de.
J.
de Sta Catarina