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Martha Medeiros

RELAÇÕES VIRTUAIS
Fui absolutamente rendida pelo poder das relações virtuais.
Acredito que é possível conhecer alguém por e mail, se apaixonar por e mail, odiar por e mail, tudo isso sem jamais ter visto a pessoa.
As palavras escritas no computador podem muito.
Mas nem sempre enxergam a verdade.
São sete horas de uma manhã chuvosa.
Você não dormiu bem à noite.
Põe pra tocar um som instrumental que deixa suas emoções à flor da pele.
Vai para o computador e começa a escrever para alguém especial as coisas mais íntimas que lhe passam no coração.
Chora.
Escreve.
Olha para a chuva.
Escreve mais um pouco.
Envia.
São onze horas da noite deste mesmo dia.
O destinatário da sua mensagem está dando uma festa.
Todo mundo fala alto, ri muito, rola a maior sonzeira.
Ele pega uma cerveja e dá uma escapada até o computador.
Abre o correio.
Está lá a mensagem.
Um texto longo que ele lê com pressa.
Destaca algumas palavras: "a saudade é tanta sozinha demais dividir o que sinto " Papo brabo.
Responderá amanhã.
Deleta.
Alguém pode escrever com raiva, escrever com dor, escrever com ironia, escrever com dificuldade, escrever debochando, escrever apressado, escrever na obrigação, escrever com segundas intenções.
Nada disso chegará no outro lado da tela: a pressa, a hesitação, a tristeza.
As palavras chegarão desacompanhadas.
Será preciso confiar no talento do remetente em passar emoção junto de cada frase.
Como pouquíssimas pessoas têm esse dom, uma mensagem sensível poderá ser confundida com secura, tudo porque faltou um par de olhos, faltou um tom de voz.
Se você passou a desprezar alguém, pode escrever "não quero mais te ver".
Se você ama muito alguém, mas a falta de sintonia lhe vem machucando, pode escrever "não quero mais te ver".
Uma mesma frase e duas mensagens diferentes.
Palavras são apenas resumos dos nossos sentimentos profundos, sentimentos que para serem explanados precisam mais do que um sujeito, um verbo e um predicado.
Precisam de toque, visão, audição.
Amor virtual é legal, mas o teclado ainda não dá conta de certas sutilezas.

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.