Estou Preso em um Laco Sozinho

Você acaba de dizer, mesmo sem palavras, que é chegado o momento de partir.
Eu não sei como fazê lo, em parte porque nunca havia esperado que isso pudesse chegar a acontecer, mas também porque eu nunca quis que estivéssemos nesse estágio.
Enquanto nutríamos e vivíamos nossos tempos áureos, cercados pelo amor, tudo o que eu sempre quis era que eles continuassem, que as nossas experiências, vivências e dias fossem sempre mais felizes que cada um dos anteriores.
Eu sempre tive essa ideia de que crescer, em todos os aspectos, era algo muito necessário para que a gente pudesse evoluir de verdade em todo relacionamento que vivêssemos.

Assim, de modo estático, mas nunca sem sentimento, eu consigo me lembrar de todas as coisas que marcaram os tempos amorosamente vividos.
Cada palavra, cada música, cada gesto, cada conversa das longas às curtas no meio do dia dos desabafos, das ligações inesperadas, das surpresas e do orgulho que eu sempre senti em segurar a tua mão e te manter ao meu lado, além da gratidão por você sempre ter aceitado segurá la.
Sentia aquele toque diário como um amparo de todas as tristezas que eu já tivesse vivido para encontrar um amor.
Sentia como se um bálsamo me abraçasse para mostrar que as tristezas e machucados não têm de durar para sempre, muito menos que é necessário que as sintamos com frequência.

É dolorido porque a gente também reluta em aceitar, porque a gente ainda mantém tudo guardado, todos os textos escritos e todas as cartas em cópia, mesmo as que não foram enviadas.
Mas acho que, de tudo, o que mais dói é fazer parecer que o que faltou na verdade foi tempo.
Tempo para exprimir tudo o que era sentido, tempo para contar as sensações de estar junto, tempo para declarar um amor que necessariamente já vivia em nós o tempo todo.
Apesar de tudo, se de uma coisa eu tenho certeza é que, independentemente dos resultados, o amor não esteve em falta entre nós.

De tudo, a única coisa que posso estando certa disso mais que nunca assegurar que não foi é fácil.
Não foi fácil desde o começo.
Não foi fácil sentir as dificuldades se aproximarem, as palavras faltarem, os conselhos não serem ouvidos.
Não foi fácil ter que ir, gradativamente, abrindo mão dos meus sonhos e me apoiando nos amigos, nas melodias e nas minhas palavras para, mesmo que nem tão efetivamente assim, me reerguer ao menos um pouco mais e fugir deste estágio de uma tristeza bastante crônica.

Mas é como se tudo fizesse falta, doesse.
Doem os sorrisos logo de manhã, as lágrimas no travesseiro à noite e as confidências, que agora serão guardadas num único coração: o meu.
Dói porque, tão quebrado que esteja, eu começo a duvidar que ele suporte o peso das lembranças, mesmo que as felizes ainda me façam sorrir.
Nesse momento, o sorriso dói, porque ele é perfeitamente capaz de me lembrar que, tão cedo ou pelo mesmo motivo, ele não voltará a acontecer.
Não volte talvez nunca mais, mas a esperança ainda não se foi em mim.

Quero que você saiba que sempre vou sentir orgulho de tudo o que você fizer, dos seus projetos mais loucos guardados na gaveta ou daqueles que, ao longo do tempo, você acumulou e teve toda a coragem necessária para concretizar.
Você foi lá, acreditou em si mesmo, trabalhou e fez: e é por isso sempre que eu vou sorrir quando vir o seu sucesso, independentemente se a parte de mim que se apaixona por você já tiver desistido dessa ideia.
Apesar dela ainda não ter ido embora, acho importante explicar a você e a ela que amor que é amor não acaba.
E que amor não necessariamente precisa ser aquilo que a gente sente um pelo outro, que troca.

Mesmo as coisas que lhe são anteriores você possui, em tudo você está.
É que, de alguma forma, sinto que você entrou na minha vida para vê la por inteiro, por completo e com todos os detalhes existentes interessantes ou não, lembrados ou não, vivos ou não dentro de mim mesma.
Você, quando chegou à porta da minha vida, bateu e pediu para assisti la do começo ao ponto atual, mas às vezes consigo achar que deixei você vê la tão por inteiro que decidiu os finais, os anseios e tudo o que eu poderia sentir, tudo por você.

Vai ficar essa lacuna, esse vazio.
Ao menos por enquanto eu acho que me valho do direito de não querer preencher.
Não quero nada entulhado dentro de mim, nenhum sentimento que cubra ou disfarce a dor que sinto.
Quero vivê la para, quando decidir que ela deve ir embora, que me deixe dar lugar a outro inquilino que me fará sentir algo tanto melhor, eu tenha certeza do que fiz e do que quero.
Portanto, por agora eu a hospedo sem reservas e ela vai se instalando em tudo o que eu toco, vejo e sinto por dentro de mim.
Tudo ainda tem um pouco de você.

Eu não sei nem bem se você era assim, desses movidos à novidade e que, quando julgam talvez antigo demais, já não se interessam.
Mas eu prefiro acreditar que não.
Prefiro acreditar que a verdade que foi vivida foi a de olhar nos teus olhos e sentir todo o torpor de menina apaixonada novamente.
De te ver rir, sorrir e agradecer por, talvez no momento eu nem soubesse exatamente o porquê, mas por ter a oportunidade de te ver feliz, satisfeito com cada dia, apaixonado pela vida, como você costumava dizer quando a poesia te enchia o coração agradeço ainda por esses momentos não serem raros e por eu poder ter feito parte deles o tempo todo.

E eu Eu, de tanto permitir, dar poder, conceder e de tanto deixar, fui deixada Não criei caso nem mistério de tudo o que quisesse saber a meu respeito.
Contei, sem reservas, aquilo que, sem também sem te questionar, contei.
Hoje percebo que talvez você não tivesse vontade de conhecer muitos dos fatos, dos passos, dos contos.
Talvez quisesses contar uma nova história.
Qual delas seria, eu não sei.
Também se soubesse teria tirado da estante em dois tempos e já não seriam tão novas assim quanto eu julguei.

Poesia.
Está aí uma coisa que você gostava.
Gostava de música também.
E eu sempre achando que as composições favoritas tinham um “quê” de nós dois, de uma história que estava apenas começando a aflorar dentro da gente.
Eu pensei que pudesse crescer e dar como frutos as lembranças que hoje me acompanham solitariamente, mas que ainda me fazem feliz e grata por tê las na conta.
E em alta conta, para usar toda sinceridade que posso.
Agradeço, pelo menos por ter sentido amor vez dessas na vida.

Não vou me forçar demais a ver as coisas que nos lembram, porque eu quero superar.
Ou acho que quero, pelo menos.
Eu não consigo ter certeza se ainda não consigo olhar para as duas figuras que nos representam estando separadas, distantes e sendo obrigadas a construir vidas novas quando eu, aqui desse lado, quis mais que tudo que a vida fosse criada em conjunto, que todos os sonhos que compartilhamos fossem comemorados por nós dois, juntos.
Nós, nossos amigos, nossas famílias Nossa comunhão tão sonhada se transforma em duas metades que, sozinhas, tocam aquilo que é necessário.

Mas fica pelo menos mais alguns minutos para me ouvir Para ouvir de mim todas as palavras que eu sei que ainda não foram ditas.
A bem da verdade, nem sei direito se essa é a melhor hora de dizê las, mas eu vou, se você ficar por mais alguns minutos.
Não é mais que isso o que necessito, é só para que eu possa te dizer tudo aquilo que continua e vai continuar aqui para sempre: existem coisas que nem mesmo a gente, que hospeda cada sentimento, é capaz de obrigar a mudar.
Existem sensações nossas que acontecem com independência, sem que a gente peça, mande ou desmande.
E eu acho muito sinceramente que você precisa conhecê las muito bem.

Amor só precisa ser aquilo que nos alavanque da realidade mundana e nos faça bem a ponto de reerguer tudo o que é preciso.
Amor não precisa ser aquilo que eu vejo vindo de você, mas aquilo que eu senti ao teu lado e que me fez sorrir, que fez feliz de verdade.
Sobre esse sentimento, se for dessa maneira, preciso lhe deixar aviso prévio: não vai acabar.
É, é isso mesmo.
Ele não acaba, nem quando a gente encontra outra pessoa que passe por nosso caminho e se proponha a nos ajudar, cicatrizar nossas dores e cuidar para que estejamos sempre com a melhor sensação de bem estar possível.
Nem mesmo assim vai passar.
Amor de verdade fica bem guardado conosco.

E, por fim, eu queria dizer que não duvido e jamais duvidarei de tudo o que aconteceu.
Eu vou acreditar piamente sim porque, nessa hora, sou só mesmo eu que sei verdadeiramente aquilo que sinto.
E, por mais que nada tenha sido superado ainda da maneira que eu espero, eu sei que não devo mais buscar por motivos para me encantar romanticamente por você e não vou mais fazer isso, de forma alguma.
Eu só, por enquanto, não vou me ausentar de algum contato, de ir aos poucos e de poder me cuidar para entender tudo isso.
Queria te contar que eu vou chorar, sabe Ah, eu vou chorar mesmo, bastante inclusive.
E vou lembrar de que você não queria.
Mas que eu preciso.
E que, quando eu voltar a sorrir, tudo estará organizado, feliz e pronto para um novo amar dentro de mim.
Seja o amor que tiver que ser, sei que, intimamente, você vai me desejar sorte e felicidade: a reciprocidade é tudo o que podemos fazer de bom um pelo outro e durará para sempre.