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Myrtes Mathias

Era uma vez, no meio da floresta,
três árvores, que conversavam:
Quando eu crescer – dizia a primeira –
quero ser transformada no berço
de um príncipe,
de um herdeiro real.
A segunda arvorezinha,
pequena aventureira,
falou:
Eu quero ser um barco, grande e forte,
desses que singram os mares do norte,
levando tesouros e riquezas.
E tu – perguntaram à menor delas –
nada vais ser
Oh! estou feliz de ser o que sou!
Quero ser sempre árvore,
no alto da montanha,
apontando para o meu Criador
O tempo passou.
Vieram os homens,
e levaram a primeira arvorezinha.
Mas não fizeram dela
nenhum berço trabalhado.
Pelo contrário, mãos rudes a cortaram
transformando a numa manjedoura,
onde os animais vinham comer.
E, ao ver se ali,
no fundo da estrebaria,
a pobre árvore gemia:
Ai de mim! tantos sonhos transformados
num simples tabuleiro de capim!
Mas, lá do Alto, uma voz chegou:
Espera e verás
o que tenho preparado para ti.
E foi assim que,
numa bela noite de verão,
na estrebaria, uma luz brilhou,
quando alguém, se curvando sobre a manjedoura,
nela colocou um neném envolto
em faixas e paninhos.
Oh! era tão jovem a mãe,
tão lindo o pequenino,
que, se lágrimas tivesse,
teria chorado de emoção!
Principalmente, quando ouviu os anjos
e compreendeu:
Que lindo destino o meu!
Em mim dorme mais que um príncipe,
mais que um rei – o meu Deus!
O tempo passou, passou
Da segunda árvore a vez chegou.
Levaram na para os lados do mar.
Mas, oh! decepção!
Nada de grande navio, nem mesmo um barco
de recreio.
Simplesmente,
humilhantemente,
um barco de pescar.
Ai de mim!
Que foi feito dos grandes sonhos meus
Viagens, tesouros,
alto mar
Espera e verás o que tenho para ti –
a árvore pareceu ouvir,
enquanto na praia alguém acenava,
pedindo para ser transportado.
Que olhar sublime!
Que poder na voz, ao ordenar:
Pedro, lança outra vez a tua rede ao mar!
A pesca maravilhosa aconteceu,
e o barquinho estremeceu:
Que maior tesouro poderia transportar
que o Soberano do céu,
o Senhor de toda a terra,
o próprio Dono do mar
Mas, eis que chega a vez
da última arvorezinha,
aquela que desejara apenas
ser árvore apontando para Deus.
Havia um prenúncio de tragédia,
já na face daqueles que a foram procurar.
Eram homens taciturnos, revoltados,
que a desbarataram apressadamente,
como se o trabalho lhes causasse horror.
Levaram na para a cidade,
cortaram na em duas partes,
que negros pregos uniram,
dando a forma de uma cruz.
Deus do céu! Que aconteceu comigo
Eu, que desejei apenas ser
um marco amigo,
apontando o teu céu de luz
Por que me transformaram nesta cruz
Mas o consolo chegou também ali:
Espera e verás
o que tenho preparado para ti.
Vieram os soldados,
levantaram a cruz,
e a puseram sobre os ombros
de um homem coroado.
Só que a coroa que ele trazia,
não era de ouro nem de pedrarias:
era de espinhos!
Uma horrível coroa,
que fazia cair
pelos caminhos
o sangue daquele estranho
condenado,
que não blasfemava,
não fugia,
cuja face macerada refulgia,
mesmo sob o sangue e o suor!
Mas havia uma dor maior naquela face,
mais profunda que a dos espinhos,
da carne rasgada pelos açoites,
do peso que fazia tropeçar.
Dor maior, jamais contemplada,
atravessou a cidade,
subiu o monte Calvário,
foi levantada na cruz.
Dor antiga, antes do início do mundo,
erro de todos os homens,
miséria de toda a terra,
ausência do próprio Deus.
Uma dor só entendida quando
o sublime condenado,
erguendo os olhos ao céu
e, como quem rasga a alma,
num grande brado, indagou:
“Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste ”
E a resposta chegou,
na terra, que escureceu,
nos mortos, que ressurgiram,
no véu do templo rasgado,
na exclamação do soldado:
“ este era o Filho de Deus! ”
Naquele instante de treva,
do silêncio mais profundo,
para a árvore fez se luz.
Ali estava seu sonho
para sempre eternizado:
para perdão dos pecados,
a partir daquele instante,
os homens se voltariam,
como único recurso,
sempre, sempre, para a cruz.
E assim entrou para a história,
com a sorte bela,
inglória,
que dupla missão encerra:
aos homens aponta o céu,
a Deus lembra a dor da terra
Assim eu, também, Senhor,
gostaria de saber:
Por que foi que vim aqui
Para dócil obedecer o que traçaste pra mim
Mas, seja qual for meu destino –
berço, barco, triste cruz –
dá me a graça, Jesus,
de em tudo compreender
que o importante é teu Plano,
a mim cumpre obedecer.
Seja berço do Menino,
todo hosana, graça e luz;
barco para teus milagres,
seja a vergonha da cruz,
o que importa é teu reino,
a tua glória, Jesus!