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Martha Medeiros

A DESPEDIDA DO AMOR
Existe duas dores de amor.
A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão envolvidos que não conseguimos ver luz no fim do túnel.
A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.
Você deve achar que eu bebi.
Se a luz está sendo vista, adeus dor, não seria assim Mais ou menos.
Há, como falei, duas dores.
A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado.
Mas quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos.
A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por ninguém.
Dói também.
Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou.
Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta, não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou se um suvenir de uma época bonita que foi vivida, passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação com a qual a gente se apega.
Faz parte de nós.
Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou se na gente e que só com muito esforço é possível alforriar.
É uma dor mais amena, quase imperceptível.
Talvez, por isso, costuma durar mais do que a dor de cotovelo propriamente dita.
É uma dor que nos confunde.
Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra.
A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: eu amo, logo existo.
Despedir se de um amor é despedir se de si mesmo.
É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.

A minha felicidade não é a sua
No mais recente livro de Carlos Moraes, o ótimo 'Agora Deus vai te pegar lá fora', há um trecho em que uma mulher ouve a seguinte pergunta de um major: "Por que você não é feliz como todo mundo ".
A que ela responde mais ou menos assim: "Como o senhor ousa dizer que não sou feliz O que o senhor sabe do que eu digo para o meu marido depois do amor E do que eu sinto quando ouço Vivaldi E do que eu rio com meu filho E por que mundos viajo quando leio Murilo Mendes A sua felicidade, que eu respeito, não é minha, major".
E assim é.
Temos a pretensão de decretar quem é feliz ou infeliz de acordo com nossa ótica particular, como se felicidade fosse algo que pudesse ser visualizado.
Somos apresentados a alguém com olheiras profundas e imediatamente passamos a lamentar suas prováveis noites insones causadas por problemas tortuosos.
Ou alguém faz uma queixa infantil da esposa e rapidamente decretamos que é um fracassado no amor, que seu casamento deve ser um inferno, pobre sujeito.
É nessas horas que junto as pontas dos cinco dedos da mão e sacudo a no ar, feito uma italiana indignada: mas que sabemos nós da vida dos outros, catzo
Nossos momentos felizes se dão, quase todos, na intimidade, quando ninguém está nos vendo.
O barulho da chave da porta, de madrugada, trazendo um adolescente de volta pra casa.
O cálice de vinho oferecido por uma amiga com quem acabamos de fazer as pazes.
Sentar no cinema, sozinha, para assistir o filme tão esperado.
Depois de anos com o coração em marcha lenta, rever um ex amor e descobrir que ainda é capaz de sentir palpitações.
Os acordos secretos que temos com com filhos, netos, amigos.
A emoção provocada por uma frase de um livro.
A felicidade de uma cura.
E a infelicidade aceita como parte do jogo ninguém é tão feliz quanto aquele que lida bem com suas precariedades.
O que sei eu sobre aquele que parece radiante e aquela outra que parece à beira do suicídio Eles podem parecer o que for e eu seguirei sem saber de nada, sem saber de onde eles extraem prazer e dor, como administram seus azedumes e seus êxtases, e muito menos por quanto anda a cotação de felicidade em suas vidas.
Costumamos julgar roupas, comportamento, caráter juízes indefectíveis que somos da vida alheia , mas é um atrevimento nos outorgarmos o direito de reconhecer, apenas pelas aparências, quem sofre e quem está em paz.
A sua felicidade não é a minha, e a minha não é a de ninguém.
Não se sabe nunca o que emociona intimamente uma pessoa, a que ela recorre para conquistar serenidade, em quais pensamentos se ampara quando quer descansar do mundo, o quanto de energia coloca no que faz, e no que ela é capaz de desfazer para manter se sã.
Toda felicidade é construída por emoções secretas.
Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só se permitirmos.