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Martha Medeiros

QUANTO VALE UM SIM
Você consegue um bom emprego na hora que bem entender
Você descola um amor do dia para a noite
Se entrar num banco, sai de lá com um empréstimo sem burocracia
Se você respondeu sim para todas estas perguntas, parabéns.
E fique atento para o horário de partida do seu disco voador, pois a qualquer momento você terá que voltar para o seu planeta.
Entre nós, terrestres, o sim é uma resposta rara.
Na maioria das vezes, não há vagas, não querem editar nossos poemas, não temos fiador, a garota não quer ouvir uns discos na sua casa, o garoto não quer usar camisinha e o guarda de trânsito não foi com sua cara e vai multá lo, sim senhor.
Não está fácil pra ninguém.
Ao contrário do que possa parecer, esta não é uma visão pessimista da vida.
As coisas são assim, dão certo e dão errado.
Pessimismo é acreditar que ouvir um não seja uma barreira para realizar nossos planos.
Tem gente que fica paralisado diante de um não.
Nunca mais vai à luta.
Já o otimista resmunga um pouco e em seguida respira fundo e segue em frente.
Quando eu tinha 17 anos, mandei uns versos para um concurso de poesia.
Não ganhei nem menção honrosa.
Daí entreguei meus versos para o Mário Quintana avaliar.
Ele não respondeu.
Neste meio tempo eu estava apaixonada por um cara que ignorava a minha existência.
Quando eu não estava pensando nele, fazia planos de morar sozinha, mas o meu estágio não era remunerado.
Aí quis viajar para a Europa, mas não consegui entrar num programa de intercâmbio.
Surpreendentemente, não passou pela cabeça a idéia de me atirar embaixo de um caminhão.
Hoje tenho nove livros publicados (cinco deles de poesia), sou casada com o homem que amo, tenho a profissão dos sonhos e viajo uma vez por ano, e tudo isso sem ganhar na megasena, sem cirurgia plástica, sem pistolão ou pacto com o demônio.
O segredo: cada não que eu recebi na vida entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
Não os colecionei.
Não foram sobrevalorizados.
Esperei, sem pressa, a hora do sim.
O não é tão freqüente que chega a ser banal.
O não é inútil, serve só para fragilizar nossa auto estima.
Já o sim é transformador.
O sim muda a sua vida.
Sim, aceito casar com você.
Sim, você foi selecionado.
Sim, vamos patrocinar sua peça.
Quando não há o que detenha você, as coisas começam a acontecer, sim.

Eu amo pessoas "San Francisco"
Uma das coisas que fascinam na cidade de San Francisco é ela estar localizada sobre a falha de San Andreas, que provoca pequenos abalos sísmicos de vez em quando e grandes terremotos de tempos em tempos.
Você está muito faceiro caminhando pela cidade, e de uma hora para outra pode perder o chão, ver tudo sair do lugar, ficar tontinho, tontinho.
É pouco provável que vá acontecer justo quando você estiver lá, mas existe a possibilidade, e isso amedronta, mas, ao mesmo tempo excita, vai dizer que não Assim também são as pessoas interessantes: TÊM FALHAS.
Pessoas perfeitas são como Viena, uma cidade linda, limpa, onde tudo funciona e você quase morre de tédio.
Pessoas, como cidades, não precisam ser excessivamente bonitas.
É fundamental que tenham sinais de expressão no rosto, um nariz com personalidade, um vinco na testa que as caracterize.
Pessoas, como cidades, precisam ser limpas, mas, não ao ponto de não possuírem máculas.
É preciso suar na hora do cansaço, é preciso ter um cheiro próprio, uma camiseta velha para dormir, um jeans quase transparente de tanto que foi usado, um batom que escapou dos lábios depois de um beijo, um rímel que borrou um pouquinho quando você chorou.
Pessoas, como cidades, têm que funcionar, mas não podem ser previsíveis.
De vez em quando, sem abusar muito da licença, devem ser INSENSATAS, ligeiramente PASSIONAIS, demonstrar um CERTO DESATINO, ir contra alguns prognósticos, COMETER ERROS de julgamento e pedir desculpas depois, PEDIR DESCULPAS SEMPRE, para poder ter crédito e errar outra vez.
Pessoas, como cidades, devem dar vontade de visitar, devem satisfazer nossa necessidade de viver momentos sublimes, devem ser calorosas, ser generosas e abrir suas portas, devem nos fazer querer voltar, porém não devem nos deixar 100% seguros, nunca.
Uma pequena dose de apreensão e cuidado devem provocar.
Nunca deve se deixar os outros esquecerem que pessoas, assim como cidades, têm RACHADURAS INTERNAS, portanto podem surpreender.
Falhas.
Agradeça as suas, que é o que HUMANIZA você, e nos FASCINA.

Amo você quando não é você
Parece aquelas notícias de jornal popular, mas merece uma página inteira na imprensa nobre.
Escute só: um casal em crise estava, cada um, em segredo, trocando e mails com um pretendente virtual.
Ela querendo ver o marido pelas costas e total mente envolvida pelo cara com quem teclava todos os dias.
E o marido querendo que a bruaca evaporasse para poder curtir a gata que conheceu num chat.
Você certamente já matou a charada: cada um marcou um encontro às ganhas com seu amor clandestino e shazam: descobriram que estavam teclando um com o outro sem saber.
Ou seja, marido e mulher não se amavam mais, porém se apaixonaram um pelo outro pela internet, usando pseudônimos.
Imagine a cena: você se arruma para um primeiro encontro com alta carga erótica e dá de cara com seu cônjuge.
Eu iria rir da situação e tentaria reinvestir no casamento desgastado, dessa vez estabelecendo novos códigos, mas o casal em questão não teve senso de humor e pediu o divórcio, alegando que estavam sendo "traídos".
Moralismo nessa hora
Não é preciso teses nem seminários: este fato, isoladamente, consegue explicar e exemplificar o ponto frágil dos casamentos de longa duração.
Todo ser humano é vaidoso uns mais, outros menos e essa vaidade se estende ao campo da sedução.
Por mais que a gente ame a pessoa com quem casamos, a passagem do tempo reduz o feedback sexual.
As transas podem até continuar prazerosas e relativamente assíduas, mas já não temos certeza se seríamos capazes de chamar a atenção de alguém que nada soubesse sobre nós, e esta é uma necessidade que não esmorece nunca: seguimos interessantes seguimos atraentes E a pergunta mais séria entre todas: depois de tanto tempo fundidos com um parceiro, sabemos ainda quem somos nós
Sendo assim, ficamos suscetíveis a uma paquera.
Pela internet, parece seguro, sem conseqüências, mas não impede que nos apaixonemos nem tanto pelo outro, mas principalmente por nós mesmos.
Recuperamos a adolescência perdida: nos tornamos novamente audazes, sedutores e jovens paixão rejuvenesce mais que botox.
É a chance para a gente se reinventar e ganhar uma sobrevida neste mausoléu de sentimentos chamado "estabilidade afetiva".
Não, você não, que é de outra estirpe.
Estou falando de gente comum.
Este casal pagou um mico, mas fez um alerta à humanidade: somos capazes de nos apaixonar por quem já fomos apaixonados, desde que esta pessoa se apresente a nós como uma novidade e nos dê também a chance de sermos quem a gente ainda não foi.
Este marido, que em casa talvez fosse carrancudo e desleixado, revelou se bem humorado e empreendedor para sua nova "namorada".
A esposa, que em casa talvez bocejasse pelos cantos, mostrou se alegre e entusiasmada para o novo "namorado".
Estavam o tempo inteiro conversando com quem conheciam há anos, mas, da forma que se apresentaram, desconheciam se.
Já escrevi uma vez sobre este tema: a gente se apaixona para corrigir nosso passado.
Agora fica claro que podemos corrigir nosso passado com os próprios protagonistas do nosso passado, desde que eles nos enxerguem com olhos mais curiosos, com um coração mais disposto e que acenem com um novo futuro.