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Despedidas

A controvérsia do amor absoluto
As pessoas fazem cartas nas despedidas.
Mas fiz mais do que cartas,
Coloquei mais do que cartas na mesa.
Te mostrei sem medo o que era e o que queria,
Jamais deixei linhas presas
Fui tão fundo na irrelevante sentimentalidade daqueles dias,
Que acabei inerte na correnteza que dava pé, mas se afogava na própria pouca profundidade.
Bem na verdade,
Meu amor,
Jamais te pude chamar assim,
Nem para mim, nem baixinho, mas sim agora,
No fim.
Não tenho mais medo de ouvir tu ressonares que vago na infertilidade do que sinto sozinha,
Somente em minha irracional poesia.
Sempre que te disse,
Ou ainda, escrevi,
Que era hora de lançar âncora no porto,
Que o que me corroía, logo estaria morto,
Pequei.
Pequei na ignorância de quem ama a solidão de poeta,
Um quase profeta da própria desgraça.
Agora, digo te com a cândura dos males acometidos aos que fingem a infinita essência dele,
Do amor:
Juro te estar sempre por perto,
Corando me as faces ao ver te te aproximares,
Pedindo a lua que se deite sob os mares,
Senão nos teus braços, então nos meus versos.
Servindo te de sombra sem aspirações de vulto,
Orgulho embebido em amor absoluto,
Ressurge e não morre assim é o meu luto,
No preto dos teus olhos o abismo tão cego.
Farta da utopia quase pueril disfarçada sob miradas de repreensão,
Farta de repetir a mim mesma com punhos cerrados a luta pelo não,
Resolvi dizer que sim,
Que te amo,
Mesmo que eu não ame,
Que morro,
Mesmo que não derrame,
Sangue.
Dizer te que sou tua e serei eterna aos teus desatinos,
De menino
Mesmo que conte décadas sem teu despertar vespertino,
Ou para mim, desatino.
Na esperança de que fazendo te acreditar que te amo, nada fará com que me chames,
Enlouquecida peço, e só peço que me ames.
Nunca o fim foi tão cretino,
Não mais escreverei o que senti,
Mesmo sendo estes os últimos que assino,
Juro ainda mais versos eternos para ti.

A DESPEDIDA DO AMOR
Existe duas dores de amor.
A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão envolvidos que não conseguimos ver luz no fim do túnel.
A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.
Você deve achar que eu bebi.
Se a luz está sendo vista, adeus dor, não seria assim Mais ou menos.
Há, como falei, duas dores.
A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado.
Mas quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos.
A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por ninguém.
Dói também.
Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou.
Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta, não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou se um suvenir de uma época bonita que foi vivida, passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação com a qual a gente se apega.
Faz parte de nós.
Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou se na gente e que só com muito esforço é possível alforriar.
É uma dor mais amena, quase imperceptível.
Talvez, por isso, costuma durar mais do que a dor de cotovelo propriamente dita.
É uma dor que nos confunde.
Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra.
A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: eu amo, logo existo.
Despedir se de um amor é despedir se de si mesmo.
É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.