E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes,
mais esguios
A minha alma não se angustia apenas, a minha alma sangra.As dores morais transformam se me em verdadeiras dores físicas, em dores horríveis, que eu sinto materialmente não no meu corpo, mas no meu espírito.
Perdi me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
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Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo
Morte, que mistérios encerras Ninguém o sabe Todos o podem saber Basta ir ao teu encontro, corajosa, resolutamente, que nenhum mistério existirá já!
Epígrafe
A sala do castelo é deserta e espelhada.
Tenho medo de Mim.
Quem sou De onde cheguei
Aqui, tudo já foi Em sombra estilizada,
A cor morreu e até o ar é uma ruína
Vem de Outro tempo a luz que me ilumina
Um som opaco me dilui em Rei
Sou todo incoerências.
Vivo desolado, abatido, parado de energia, e admiro a vida, entanto como nunca ninguém a admirou!
Ouve esta música É a expressão da minha vida: uma partitura admirável, estragada por um horrível, por um infame executante.