EPÍLOGOS
Que falta nesta cidade Verdade.
Que mais por sua desonra Honra.
Falta mais que se lhe ponha Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste rocrócio Negócio.
Quem causa tal perdição Ambição.
E no meio desta loucura Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.
Quais são seus doces objetos Pretos.
Tem outros bens mais maciços Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos Mulatos.
Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas Guardas.
Quem as tem nos aposentos Sargentos.
Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.
E que justiça a resguarda Bastarda.
É grátis distribuída Vendida.
Que tem, que a todos assusta Injusta.
Valha nos Deus, o que custa
O que El Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
Que vai pela clerezia Simonia.
E pelos membros da Igreja Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha Unha
Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.
E nos frades há manqueiras Freiras.
Em que ocupam os serões Sermões.
Não se ocupam em disputas Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.
O açúcar já acabou Baixou.
E o dinheiro se extinguiu Subiu.
Logo já convalesceu Morreu.
À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.
A Câmara não acode Não pode.
Pois não tem todo o poder Não quer.
É que o Governo a convence Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.
(Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da República em todos os membros, e inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia.)