A fragrância das plantas da terra ainda sobe até a sua janela.
Dá até para ouvir os sons da mata crescendo ao redor.
Impressiona como a casa de Pedro Ludovico se parece com ele.
O texto de um cronista pode revelar um papel fraco, depressivo, corajoso, hilário, colérico ou, simplesmente, doce e afetuoso.
Na rua quase deserta ouço gargalhadas, talvez vindas de festas, saltos batendo no asfalto duro de um dia que termina para uns e começa nos olhos do crepúsculo.
São ruídos de quem nem sabe que eu existo.
Cada um de nós habitante do mundo tem um papel a ser cumprido nessa vida efêmera e, às vezes, sem sentido.
O do artista de cinema, televisão e circo é o de emocionar as pessoas.
Nada é mais importante no mundo do que o seu destino.
Fecho os olhos para não ver a frota que chegou nem sei se do Atlântico ou do Pacífico.
Viro o corpo, à direita e à esquerda, cansado de noites sem dormir à espera da alvorada.
Dezembro, dezembro.
É do natal passado de que me lembro.
Minhas lembranças gravadas no tempo mergulham nas águas do Rio Paranaíba, aos acordes de uma bela canção.
E gritam sacudindo os alicerces do meu mundo.
Vejo o meu retrato: um menino pobre de Porto Barreiros que chegou a Goiânia num caminhão de mudanças.
Penso que evoluí muito.Mas não importa o quanto eu tenha evoluído, eu continuo num caminhão de mudanças.
Somos cidades ambulantes; as emoções são casas que precisam de asseio e luz.
E, claro, cuidados para acolher as almas solitárias que se esgotam na folia.
O vento balança bandeiras e árvores; arrasta papéis e pode até arrancar o telhado das casas.
Mas não leva o cheiro da cidade e nem o cheiro do próprio vento.
Também não leva as coisas mais leves como o pensamento.
Aos poucos, sem perceber, alterei rotinas, costumes e o jeito de ver as coisas.
De contador a jornalista foi um pulo de pião que roda a trezentos e sessenta graus até encontrar o ponto em que o giro parece estático.
Cada pessoa tem uma função e vem ao mundo para realizar a sua tarefa.
No seio da imensa cidade nasce uma solidão plasmada em nossos olhos cansados.
(Do livro de crônicas Romanceiro de Goiânia Doracino Naves).
Na infância são jogadas na terra e espalhadas no ar as sementes que vão nascer na velhice; de gratidão ou de insatisfação com o sabor amargo das lamúrias.
No fim do dia, num sábado calorento como neste fevereiro, lá vem o Janjão de roupa nova.
Ia ao cinema ver “E Deus criou a mulher”, com a Birgitte Bardot.
Filme proibido para menores, como nós, caçadores de jatobá.