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alexandre morais

Pula Pula
Criança ilumina qualquer dor
porém cava a maior saudade
sem maldade, na inocência
pura benevolência
Criança Mata a sede dos meus olhos
dando me água com as mãos.
Ô moço! Chora não.
Quer brincar Só me dê seu coração,
nem mais um tostão!
Caminha a passos minúsculo, pequeno pesado.
Na vida há imprevistos, notícia inopinada
surge no final da tarde, depois que o andarilho
de camisa amarela suada, desbotada
jogou na garagem espelhada por objetos (bem definidos)
um papelucho desorientador, e inerte.
No balanço da árvore os cabelos voam,
desprendem se até a moleira,
despenca maças carnais dos galhos
e sobra salada na sobremesa saudável.
É levada para a casa do moço bom,
Ele gosta de você, terá todo cuidado
de porcelana frágil, estás em boa companhia
Tudo bem mamãe, eu sei, eu te amo,
chama lá a vovozinha.
A mãe desaba como a fruta, a maçã
e sabe da força do filho,
daquela criancinha,
que corria para sua cama,
com medo de monstro da infantil fantasia.
Se apega no terço coração marejado
Mãe rainha, derrame suas graças
na minha pobre filhinha.
Força maior do dia, dia a dia, nutrida
por mistura composta por três partes
Há bolinhas de sabão por tudo
e palhaços a cantar uma vez por mês
só pra sonhar com papai do céu
toda vez.
Exemplo há superar.
Criança chora, ainda brinca
criança dorme eternamente,
vai para o infinito cativante
silencioso, escuro, molhado
florido, inesquecível.
Na caixinha de boneca toda branca,
o carrinho empurrado com sutileza
igual àquele carrinho
de madeira puxado
pelo cordão do peão.
Criança Criança é ternura em cima
do cavalo magricelo de vassoura:
Devolve menino, tenho que varrer,
seu pai há de chegar, e entra pra dentro
que vai chover.
Adulto é ser, ter o desgosto de não
poder deitar no chão, junto à chuva
sem saber se vai resfriar.
É não arrancar a tampa do dedão,
chutando bola de leite: Silêncio, caiu no vizinho
O senhor se apegou a camada de borracha
protetora de incômodos terrenos, empoeirados:
Devolve a bola moço
Implora, choraminga e míngua:
Só mais dez minutinhos mamãe
é minha vez de procurar a minha paixão
no esconde esconde e polícia e ladrão:
Achei, agora me dá um beijinho Um beijinho Zinho
Entra menino, o jantar está pronto
panela de barro pro feijão cheirosinho, avental
e cadernos com lápis e borracha, juntos com a
tábua de tomate
Dever É obrigação!
É bom viver, aprender com corpos franzinos
pequenos, ter aula de ser prazenteiro
sem se fincar para pagar conta e cartão.
Criança É aprender que a vida brota do chão.

Na Velhice/ no Outono/ na Saudade
Ainda trago ao pé de mim
aquela mulher ao meu lado.
Deus, como foi rápido,
cada olhar sem rumo e disfarçado
os beijos ardentes como febre de outono.
Outrora desses anos todos que passaram
carrego no meu interior
a única mulher que eu amei.
Tive muitas outras
uma por noite
duas por noite
três
quatro
outras por meses
até anos longos e duráveis
mas aquela, nunca se apagou da minha vida,
nem nunca vai.
Não tive chance de ter mais dores com ela
ajudá la em suas necessidades,
diversas tristezas e calamidades.
Ela está ai, anda por ruas estreitas
por entre cidades pequenas.
Sei que viaja, cuida dos filhos
se resguarda, bebe vinho no natal
faz dieta e lê bons livros
poupa se do cansaço da mulher
e lembra,
às vezes lembra.
Talvez todas as noites
ou intervalos de meses
anos,
até décadas
Meu Deus, isso é muito tempo
mas ela lembra.
Não se lembra de mim em si,
porém do sol diferente
que brisava seu rosto pequeno.
Pai! Como eu ainda lembro
daquela pinta na bochecha
no corpo tão pequetito, e tão sereno.
Lembra se dos chocolates, das flores
dos jantares fulminantes e estrelados.
Voltávamos e eu virava a esquina errada
só para continuar mais tempo a andar com ela.
De quando eu chorava ao deixar ela em casa
na vigia da lua e dos anjos.
Eu não me esqueço, como eu não me esqueço
do amor que virou arte nos ares
nos cafés que frequentamos,
das trufas que comemos
dos ursinhos de pelúcia
no cinema,
das horas esquecidas ao telefone
eu nem olhava para o relógio.
Das diversas vezes que levou as roupas à costureira
para remendar os rasgos que eu havia dado
na noite anterior.
E de quando ela me chamava de: "louco",
o meu "louco".
A vida A vida passa por ai,
despercebida e calada.
Não dá o menor sinal de aviso
ela anda nas pontas dos pés
de mansinho, a cada dia que nasce
a cada sol que aparece
como que se voltasse de uma festa
e a vida, um dia fica nessa festa que não tem hora pra acabar
chamada mundo.
Hoje, já se passaram sessenta anos
sessenta e poucos anos, confundo os números,
que o meu amor foi embora.
não sei ao certo
estou velho
meus cabelos brancos não me deixam mentir.
O que eu diria se ele estivesse na minha frente agora
Diria o tanto que eu ainda a amo.
Palavras que me abalam profundamente.
Porque são palavras que eu nunca disse.

Nunca se Apaga
A maior lembrança que eu tenho é o dia do seu aniversário.
O meu melhor café da manhã foi o na padaria da esquina,
servido a pão com manteiga, café preto, café quente.
Lembro me de que o assoprava para você, enquanto vestias as luvas e a toca de tricô
fio a fio costurada à mão, por sua mãe.
Eu sorria! Você com bochechas vermelhas, os lábios trêmulos e esbranquiçados,
também sorria.
Balançava os braços e as pernas com tanta sutileza,
era quase invisível de tão doce, só para se esconder do insistente frio.
Porém o frio não desistia em levar te para dançar.
Enciumava me todo, e logo me esquecia.
Era uma simples e apagada manhã de outono.
Não seria exagero meu em afirmar que ao seu lado
os pássaros voaram mais alto, passaram do céu,
bicaram as estrelas, como se fossem sementes na terra e, descobriram uma luz que alimenta.
Difícil não é Pois bem, aconteceu!
Que as árvores decidiram desenraizar se para poderem brincar com os cachorros e os mendigos na rua.
Não seria exagero eu dizer que quando estava com você, eu fui feliz.
Eu sei, eu sei, esse é o maior dos exageros.
Mas acredite, foi o que eu fiz.
Costumo me lembrar, não muito, não demais, da sua ternura.
Faz tanto tempo, quanta saudade dos velhos momentos.
A última taça de vinho que nós bebemos,
encontra se junta a vela que acendemos para aquele simples jantar surpresa de primavera.
Estão dentro da estante de vidro que nunca mais ousei em abrir.
(Vejo que há uma última gota avermelhada ao fundo que nunca se secou).
Todas às vezes que tento, paro com a mão na dobradiça e encosto a cabeça.
Repudio me por ser um fraco e, não conseguir abrir uma reminiscência tão bela.
Os livros de poesia, com aquelas folhas amareladas, encontram se inalterados na mesma estante.
Nunca mais li um verso se quer de algum deles.
Minha alegria ficou naquelas páginas esmiuçadas pelo tempo.
Não ei de incomodá los, repousam e dormem, repousam e dormem.
Meus sentimentos alojam se na mais alva nuvem, circulante no mundo.
Se tu, minha donzela, soubestes o tanto que ainda estás comigo,
entenderia as palavras cortadas, nunca ditas, que continuam insistindo para serem ouvidas,
nas páginas misteriosas da vida.
Vá, eu vou, já fui.
Sozinho, ouvindo Beethoven ou Debussy.
Embriagando me com vinho, deslizando meu corpo por uma saudade jamais vista ou sentida.
É minha saudade, acredite minha bela, é minha eterna ferida.

A Filha do Sol
A muitos séculos dizem que o sol é a estrela mais brilhante.
Bem, era! O resultado dessa emissão foi uma filha que herdou e ultrapassou o seu brilho.
Grandes mentes empenharam suas vidas para decifrá lo.
Não precisei ter uma mente brilhante para vê la tal herdeira, estudá la, senti la.
Sempre esteve perto de mim, do meu lado.
Isso explica o calor exacerbado em meus poros.
Transfigurada do universo para um corpo tão pequeno.
Sem ele o ser humano não vive.
Sem ela eu não vivo.
Ele é fonte de energia renovável.
Ela me renova a cada dia.
Mãos minúsculas, as quais eu pego com o mesmo cuidado que se pega uma porcelana, com medo de quebra la.
No seu núcleo um coração derretido.
O sol fez questão, ao fazê la sua filha, em pintar o momento em que ele é mais bonito.
O pôr do sol.
E ele o colocou no lugar mais mágico e encantador do mundo.
O lugar onde o universo se rende a tal formosa atração.
Os seus olhos.
Mas com um toque de natureza.
Uma mistura de quando o sol abraça a floresta e a envolve em seus braços, e forma um amarelo esverdeado.
Me perco na mata fechada, mas sou guiado pela luz.
Dizem que Deus é brasileiro.
Mentira.
O sol que se encantou pelas maravilhas de uma terra descoberta por mercenários a procura de lucros, e que até hoje é vítima de tanta ganância.
O sol se apaixonou pelos índios, pela fauna, pela flora e pelo pão de açúcar que lhe dá um toque especial.
Por isso que ele nos presenteou e nos encantou com sua filha, com sua cachoeira de fogo, que deságua delicadamente sobre seu pescoço e seus ombros.
Sempre quando a encosto me queimo, mas não forma se cicatrizes.
Forma lembranças que fixam a minha pele.
Vários artistas se inspiram no sol para fazer suas obras.
Eu me inspiro em sua filha para viver.