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alexandre morais

Nunca se Apaga
A maior lembrança que eu tenho é o dia do seu aniversário.
O meu melhor café da manhã foi o na padaria da esquina,
servido a pão com manteiga, café preto, café quente.
Lembro me de que o assoprava para você, enquanto vestias as luvas e a toca de tricô
fio a fio costurada à mão, por sua mãe.
Eu sorria! Você com bochechas vermelhas, os lábios trêmulos e esbranquiçados,
também sorria.
Balançava os braços e as pernas com tanta sutileza,
era quase invisível de tão doce, só para se esconder do insistente frio.
Porém o frio não desistia em levar te para dançar.
Enciumava me todo, e logo me esquecia.
Era uma simples e apagada manhã de outono.
Não seria exagero meu em afirmar que ao seu lado
os pássaros voaram mais alto, passaram do céu,
bicaram as estrelas, como se fossem sementes na terra e, descobriram uma luz que alimenta.
Difícil não é Pois bem, aconteceu!
Que as árvores decidiram desenraizar se para poderem brincar com os cachorros e os mendigos na rua.
Não seria exagero eu dizer que quando estava com você, eu fui feliz.
Eu sei, eu sei, esse é o maior dos exageros.
Mas acredite, foi o que eu fiz.
Costumo me lembrar, não muito, não demais, da sua ternura.
Faz tanto tempo, quanta saudade dos velhos momentos.
A última taça de vinho que nós bebemos,
encontra se junta a vela que acendemos para aquele simples jantar surpresa de primavera.
Estão dentro da estante de vidro que nunca mais ousei em abrir.
(Vejo que há uma última gota avermelhada ao fundo que nunca se secou).
Todas às vezes que tento, paro com a mão na dobradiça e encosto a cabeça.
Repudio me por ser um fraco e, não conseguir abrir uma reminiscência tão bela.
Os livros de poesia, com aquelas folhas amareladas, encontram se inalterados na mesma estante.
Nunca mais li um verso se quer de algum deles.
Minha alegria ficou naquelas páginas esmiuçadas pelo tempo.
Não ei de incomodá los, repousam e dormem, repousam e dormem.
Meus sentimentos alojam se na mais alva nuvem, circulante no mundo.
Se tu, minha donzela, soubestes o tanto que ainda estás comigo,
entenderia as palavras cortadas, nunca ditas, que continuam insistindo para serem ouvidas,
nas páginas misteriosas da vida.
Vá, eu vou, já fui.
Sozinho, ouvindo Beethoven ou Debussy.
Embriagando me com vinho, deslizando meu corpo por uma saudade jamais vista ou sentida.
É minha saudade, acredite minha bela, é minha eterna ferida.

Milênios e Séculos, Dias das Horas
Meu amor por você é milenar.
Veio lá de trás
quando nada existia
e tudo começava a se criar.
O graveto e a pedra mordiscar,
as árvores ainda não eram plantadas
não se precisava de paz
nem correr por medo do tempo.
As águas agrupavam se ainda
por debaixo da terra,
se preparando para formar os rios
e os mares.
A chuva não castigava,
deslizava sobre as primeiras gramas
verdes, destacadas do cinza
das tempestades arqueológicas.
Nosso amor, apareceu bem antes
do primeiro arco íris
e no final dele colocou o lendário ouro tilintante,
com um trevo de quatro folhas
atrás da orelha.
Esse amor partiu do nada,
do branco intato.
Nem era escrito em poesias.
Eu e você nem existíamos.
Os romances nem pai e mãe tinham
e as quatro estações estavam indecisas entre si.
Inventou ditados populares
e até pintou com Da Vinci
Que amor é esse
Dono de tudo
dono do passado,
do presente
e do futuro.
Dono de mim
malandro que sou,
honesto vagabundo.
De você minha dama
do olhar profundo
para esse que rege com mão de ferro
todos os meus desejos astutos.
Nosso amor, alimentou o primeiro
caso de fome da história mundial.
Chorou por ver guerras,
caminhou a passos, ora largos, ora estreitos.
Já pensou em desistir de nos encontrar
até já voltou bêbado a pé de outro continente
colhendo flores dos jardins alheios e imaginários,
se esperançou ao ver uma criança nascer.
Não quero entender esse amor
que já viveu de tudo neste terreno instável.
Quero apenas sentir a cada momento
a sua existência anormal e inexplicável
e ver que ele ainda acredita em Deus
nos homens, na natureza
em nós, seres amados.
Não ignore este amor que durou
séculos e séculos de vida
nas linhas das páginas dos anos.
Se ele andou sozinho
todo esse tempo,
enfrentou a velhice com suas dificuldades
e preconceitos,
não foi à toa.
Tartamudo e irreverente
sorriu para todos os lados
e hoje estamos deitados
no ápice da intimidade
com os prazeres a flor da pele,
na cama aquecida,
esperando cada segundo girar
bem devagar
como se fosse um desespero do fim.
Sei que na lápide ele não se encerrará,
continuará em outro lugar
mais denso, junto com nós dois
de mãos dadas e eternos
direcionados por anjos serviçais.
Nosso amor viverá
conosco, no céu de lá.