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alexandre morais

Na Velhice/ no Outono/ na Saudade
Ainda trago ao pé de mim
aquela mulher ao meu lado.
Deus, como foi rápido,
cada olhar sem rumo e disfarçado
os beijos ardentes como febre de outono.
Outrora desses anos todos que passaram
carrego no meu interior
a única mulher que eu amei.
Tive muitas outras
uma por noite
duas por noite
três
quatro
outras por meses
até anos longos e duráveis
mas aquela, nunca se apagou da minha vida,
nem nunca vai.
Não tive chance de ter mais dores com ela
ajudá la em suas necessidades,
diversas tristezas e calamidades.
Ela está ai, anda por ruas estreitas
por entre cidades pequenas.
Sei que viaja, cuida dos filhos
se resguarda, bebe vinho no natal
faz dieta e lê bons livros
poupa se do cansaço da mulher
e lembra,
às vezes lembra.
Talvez todas as noites
ou intervalos de meses
anos,
até décadas
Meu Deus, isso é muito tempo
mas ela lembra.
Não se lembra de mim em si,
porém do sol diferente
que brisava seu rosto pequeno.
Pai! Como eu ainda lembro
daquela pinta na bochecha
no corpo tão pequetito, e tão sereno.
Lembra se dos chocolates, das flores
dos jantares fulminantes e estrelados.
Voltávamos e eu virava a esquina errada
só para continuar mais tempo a andar com ela.
De quando eu chorava ao deixar ela em casa
na vigia da lua e dos anjos.
Eu não me esqueço, como eu não me esqueço
do amor que virou arte nos ares
nos cafés que frequentamos,
das trufas que comemos
dos ursinhos de pelúcia
no cinema,
das horas esquecidas ao telefone
eu nem olhava para o relógio.
Das diversas vezes que levou as roupas à costureira
para remendar os rasgos que eu havia dado
na noite anterior.
E de quando ela me chamava de: "louco",
o meu "louco".
A vida A vida passa por ai,
despercebida e calada.
Não dá o menor sinal de aviso
ela anda nas pontas dos pés
de mansinho, a cada dia que nasce
a cada sol que aparece
como que se voltasse de uma festa
e a vida, um dia fica nessa festa que não tem hora pra acabar
chamada mundo.
Hoje, já se passaram sessenta anos
sessenta e poucos anos, confundo os números,
que o meu amor foi embora.
não sei ao certo
estou velho
meus cabelos brancos não me deixam mentir.
O que eu diria se ele estivesse na minha frente agora
Diria o tanto que eu ainda a amo.
Palavras que me abalam profundamente.
Porque são palavras que eu nunca disse.

Milênios e Séculos, Dias das Horas
Meu amor por você é milenar.
Veio lá de trás
quando nada existia
e tudo começava a se criar.
O graveto e a pedra mordiscar,
as árvores ainda não eram plantadas
não se precisava de paz
nem correr por medo do tempo.
As águas agrupavam se ainda
por debaixo da terra,
se preparando para formar os rios
e os mares.
A chuva não castigava,
deslizava sobre as primeiras gramas
verdes, destacadas do cinza
das tempestades arqueológicas.
Nosso amor, apareceu bem antes
do primeiro arco íris
e no final dele colocou o lendário ouro tilintante,
com um trevo de quatro folhas
atrás da orelha.
Esse amor partiu do nada,
do branco intato.
Nem era escrito em poesias.
Eu e você nem existíamos.
Os romances nem pai e mãe tinham
e as quatro estações estavam indecisas entre si.
Inventou ditados populares
e até pintou com Da Vinci
Que amor é esse
Dono de tudo
dono do passado,
do presente
e do futuro.
Dono de mim
malandro que sou,
honesto vagabundo.
De você minha dama
do olhar profundo
para esse que rege com mão de ferro
todos os meus desejos astutos.
Nosso amor, alimentou o primeiro
caso de fome da história mundial.
Chorou por ver guerras,
caminhou a passos, ora largos, ora estreitos.
Já pensou em desistir de nos encontrar
até já voltou bêbado a pé de outro continente
colhendo flores dos jardins alheios e imaginários,
se esperançou ao ver uma criança nascer.
Não quero entender esse amor
que já viveu de tudo neste terreno instável.
Quero apenas sentir a cada momento
a sua existência anormal e inexplicável
e ver que ele ainda acredita em Deus
nos homens, na natureza
em nós, seres amados.
Não ignore este amor que durou
séculos e séculos de vida
nas linhas das páginas dos anos.
Se ele andou sozinho
todo esse tempo,
enfrentou a velhice com suas dificuldades
e preconceitos,
não foi à toa.
Tartamudo e irreverente
sorriu para todos os lados
e hoje estamos deitados
no ápice da intimidade
com os prazeres a flor da pele,
na cama aquecida,
esperando cada segundo girar
bem devagar
como se fosse um desespero do fim.
Sei que na lápide ele não se encerrará,
continuará em outro lugar
mais denso, junto com nós dois
de mãos dadas e eternos
direcionados por anjos serviçais.
Nosso amor viverá
conosco, no céu de lá.