Era ele, mas quase não era.
Ou não era mesmo.
As pessoas íntimas quando passam a estranhas adquirem um novo formato aos nossos olhos.
O cabelo estava menos liso, ou era a camisa muito largada.
O olhar e o aceno da mesa à curta distância tinham um quê nervoso, uma falsa naturalidade que não lhe era comum (ou já era eu não percebia), e deixavam claro que não nos levantaríamos dos nossos lugares para um cumprimento mais próximo.
Não que temêssemos uma recaída, mas porque não sabíamos lidar com tamanho esfacelamento da intimidade; nós, que já dormíramos e acordáramos juntos durante tantos anos, não sabíamos ser senão desconhecidos.
Ambos tentamos uma alegria, mas ela veio descalça e tão desamparada que não convenceu nem a nós mesmos.
Estávamos demais um pro outro ali, ou de menos.
Apressei me em ir embora e saí com um sorriso congelado, desconcertada como uma criança diante de um presente que não fora o pedido, as mãos crispadas a amassar o passado e um pensamento cruel que imaginei passar também pela cabeça dele: como se tornam desinteressantes as pessoas que deixamos de amar!