Telha de vidro
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô
Deram lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que coitados tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão
Por que você na experimenta
A moça foi tão vem sucedida
Ponha uma telha de vidro em sua vida!