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Carlos Alberto Rodrigues Alves

SOBRE O ADEUS A MEU PAI ZITO
" Se queres viver bem, pensa na morte" Monges medievais
Meu pai foi embora Mas ainda estou a ouvir a voz do meu bom e velho amigo.
Agora não mais da janela do seu quartinho, onde sempre ele esperava a próxima brisa benfazeja.
O cenário é outro, mas ainda sua sabedoria paira no ar.
Quando a sua voz calou com a morte, seu coração seguiu falando.
Ouçam:
“ A vida é uma tentativa, às vezes bem sucedida, de se driblar a morte.
Tentei de todas as maneiras me manter em pé.
Tal como o anjo torto do Garrincha, meu jogador predileto, driblei a várias vezes Eu gostava até de dizer, num jeito de brindar a vida : quebro mas não vergo.
Vejo, do alto de uma outra dimensão, um de meus filhos me saudando emocionado, com citações inspiradas pelo Brecht : 'Há homens que lutam a vida inteira, estes são os imprescindíveis.' Agradeço lhe pois de fato não perdi a garra de viver jamais.
Mas agora, deitado e inerte, sou rodeado de pessoas queridas que choram minha partida.
Chegou o momento em que as carrancas da morte se defrontaram cara a cara comigo.
Jamais as temi.
Pelo contrário, por saber que a morte é uma irmã gêmea da vida, tive para com ela, sempre uma relação de boa vizinhança.
Dela escapei várias vezes, dela ri para valer, com ela aprendi sempre.
Agora é a vez dela
Já havia pedido para meus queridos que no meu túmulo fosse colocado este epitáfio: ' Aqui jaz um homem, muito a contragosto'.
As pessoas que levam a vida muito a sério jamais compreenderão.
Irão dizer: ' está aí um homem blasfemo! Imagine um homem querendo contrariar os desígnios divinos! '.
Não é nada disso! O que eu quero é simplesmente dizer que a vida é boa e enquanto não chega sua irmã temos que inventar esperanças para fazer valer nossa passagem por aqui.
Vejam estas pessoas a me rodear.
Choram profundamente a saudade.
Não a saudade de quem se sabe, que um dia voltará.
A saudade que choram é aquela da canção do Chico que diz: ' ó metade amputada de mim ' É a saudade de se arrumar um quarto para o qual a pessoa amada jamais voltará.
É a saudade registrada na moda de viola que eu cantava com meus netos : ' a tua saudade corta como um aço de navaia'.
Chorem queridos! Mas não o choro do desespero! Chorem a saudade de quem sempre soube que há tempo de chegar e tempo de partir, tempo de cantar e tempo de prantear, tempo de nascer e tempo de morrer.
Recebo a amiga morte como presente.
Embora tivesse ensaiado em me assustar, ela me veio de forma branda, o que me deu até oportunidade de lembrar um verso de Tagore, que deixo para vocês:
' No dia em que a morte bater à tua porta que lhe oferecerás Porei diante de minha hóspede
o vaso cheio de minha vida.
Não a deixarei ir de mãos vazias '”
(Para minha irmã Luciana, fiel escudeira de meu pai até o último momento)
Postado por Revº Carlos Alberto Rodrigues Alves

MERCEDES: GRACIAS A LA VIDA!
Morreu Mercedes Sosa, a voz das veias abertas da América morena.
Cantora que fez os corpos de tantos amedrontados se mobilizarem para resistência.
Nos pesados anos de chumbo, os que optaram pela força do fuzil entenderam, e com razão, que suas músicas lhes eram mais perigosas que a luta armada.
Por isso, trataram de prendê la, e deportá la.
Erraram ao perceber que ela se tornaria ícone de “una Hermana mas hermosa que se chama liberdade”
Erraram também ao não imaginarem que quanto mais as botas pesadas lhe espezinhasse, tanto mais forte ela deixava sair de sua voz e de seu bumbo engajado, os versos e a alma do poeta :
“Os poderosos podem matar uma, duas ou três flores, mas não podem impedir a chega da primavera”.
Assisti “ la Negra” no teatro Guaíra, quando ela voltava de seu exílio em Paris e Madri.
Período de redemocratização do Brasil.
Período que estavam voltando as flores.
O teatro veio abaixo quando ela cantou
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
En el valle en la montaña
En la pampa y en el mar
Cada cual con sus trabajos
Con sus sueños cada cual
Con la esperanza delante
Con los recuerdos detrás
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
Morreu Mercedes Sosa nessa primavera.
Sua voz está mais florida que nunca!
Algumas de suas utopias se concretizaram.
Outras ainda nascerão de suas canções pois estas não podem morrer jamais.
Eu que um dia a vi esta guerreira ao vivo, continuo ouvindo a quando empunho meu violão para cantar a canção que traduz o nome de Mercedes: “Gracias a la vida que me há dado tanto ”!