Mãe, além do substantivo
Mãe não pega o jeito, já nasce pronta.
Mãe não fica sabendo, ou não chega depois, de alguma forma e não se sabe como, ela já sabe e já está lá.
Mãe não mente, diz que na volta a gente compra e não se fala mais nisso.
Mãe não avisa, prevê.
Mãe arruma a gente, mãe arruma um jeito.
É brigando com a mãe que se aprende a perdoar.
Afinal, com mãe a gente não rompe, só fica de mal.
Mãe é a melhor companhia para ir ao pronto socorro.
Se a gente não sabe o que tem, ela provavelmente deve saber.
O pediatra só passa a receita, ela constata: “Eu falei, isso aí é virose, vamos passar na farmácia”.
Mãe pergunta só pra cumprir protocolo, por educação, na verdade ela já sabe de tudo.
Tanto é que quando pergunta, pergunta afirmando: “você bebeu, né ” “você passou essa camiseta ” “seu quarto tá limpo ”
Mãe não ameaça, fala que vai sumir de vez qualquer dia desses.
Mãe tem um dom metafísico que transcende a natureza das coisas: não importa se você perdeu algo, ela vai achar e vai esfregar na sua cara.
A ciência ainda não explicou esse tipo de fenômeno, mas os cientistas estão trabalhando nisso.
Mãe não cabe em prosa, em verso, nem em música.
Não tem começo, meio e fim.
Mãe a gente não lembra, a gente leva.
Lavoisier disse uma vez que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Com mãe não é diferente.
Mãe é um papel que vai um pouco além do pra sempre, um pouco além, porque parece que até o pra sempre, sempre acaba.
A mãe não.