Se a pretensão da religião terminasse aqui, tudo estaria bem.
Porque não há leis que
nos proíbam de sentir o que quisermos.
O escândalo começa quando a religião ousa
transformar tal sentimento, interior e subjetivo, numa hipótese acerca do universo.
Podemos entender as razões por que o homem religioso não pode se satisfazer com o
pássaro empalhado.
A religião diz: "o universo inteiro faz sentido".
Ao que a ciência
retruca: "as pessoas religiosas sentem e pensam que o universo inteiro faz sentido".
Aquela afirmação sagrada que ecoava de universo em universo, reverberando em
eternidades e infinitos, a ciência aprisiona dentro do poço pequeno e escuro da
subjetividade e da sociedade: ilusão, ideologia.
O sentido da vida é destruído.
Que
pode restar da alegria das rãs, se o "lá fora" que o pintassilgo cantou não existir
Afirmar que a vida tem sentido é propor a fantástica hipótese de que o
universo vibra com
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os nossos sentimentos, sofre a dor dos torturados, chora a lágrima dos abandonados,
sorri com as crianças que brincam..
.
Tudo está ligado.
Convicção de que, por detrás
das coisas visíveis, há um rosto invisível que sorri, presença amiga, braços que
abraçam, como na famosa tela de Salvador Dali.
E é esta crença que explica os
sacrifícios que se oferecem nos altares e as preces que se balbuciam na solidão.