Poemas de Chico Buarque

Porque nesses seis meses tudo o que falamos antes virou barulho, fica difícil retomar a conversa.

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta restante
Milênios, milênios
No ar
( )
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu se de inventar
O perdão
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar

Se soubesse como eu gosto das suas chegadas, você chegaria correndo todos os dias.

As batidas do coração jamais deveriam se escravizar aos tiquetaques desencontrados de dois relógios diferentes.

Vejo a multidão fechando todos os meus caminhos, mas a realidade é que sou eu o incômodo no caminho da multidão.

Eu até que nem gostava
De sair da minha casa
Mas quando eu menos esperava
Parece que criei asa.

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio

Ai! Esta terra ainda vai cumprir seu ideal.
Ainda vai tornar se um imenso Portugal.
Ai! Esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar se um império colonial.

Já gozei de boa vida
Tinha até meu bangalô
Cobertor, comida
Roupa lavada
Vida veio e me levou

Estou pensando alto para que você me escute.
E falo devagar como quem escreve, para que você me transcreva sem precisar ser taquigrafa, você está aí

Hoje topei com alguns conhecidos meus
Me dão bom dia, cheios de carinho
Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho

"Eu, que não digo
Mas ardo de desejo
Te olho
Te guardo
Te sigo
Te vejo dormir."

Eu sou sua menina, viu
Ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar.