ORAÇÃO (DO CERRADO)
Senhor, que és a diversidade, que és a vida e a morte!
O cerrado és tu, o por do sol encarnado és tu, o chiado do vento és tu.
Tu és a sequidão no lamento, do chão árido, agonizante em tormento, tortos galhos, tu és!
Tu és o mistério da folha seca no bale do fado, falta e aporte, desenhando a sua sorte.
Onde tudo parece deserto, tu habitas, eis a variedade e o concreto.
Onde nada está tu rege a tua toada.
Dá me entendimento pra te seguir, nos teus passos os meu passos, amar sem desistir.
Dá me água pra aguar a secura, e assim, ouvir te límpido na vastidão do sertão em agrura.
Dá me olhos pra ver, a benção dos ipês, escasso da chuva, e tão formosos e frondes.
Faze com que eu ame como a natureza, diversa, cada qual com a sua beleza.
Respeitando.
Amando!
Que eu seja irmão e serva te como pai.
Adonai!
Torna me seco para o pecado, e aquoso no amor, pra ser amado.
Torna me fértil como a terra, afim, pra eu rezar tu em mim.
Que não haja cascalho nos caminhos do bem, onde a boa fé possa ir além.
Senhor, protege me e ampare me.
Dá me alegria na melancolia, enfim,
pra eu me sentir teu, na tua glória.
Senhor, habitas em mim!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, abril.
05'40"
Cerrado goiano
paráfrase Fernando Pessoa