A MULHER DA MINHA VIDA
Ela foi a síntese de todas as mulheres que já conheci.
A mulher da minha vida.
É isso mesmo.
Não se tem só o “homem da vida”, mas também a “mulher”.
Permitam me falar dela que, mesmo sendo um afeto muito pessoal, quero que todos a conheçam.
A mulher que construiu meus alicerces e de toda sua descendência.
E ela ainda vive, basta procurá la nas mãos doceiras e no jeito especial de ser mãe e avó de Eloísa; no olhar meio que severo e na fidelidade trabalhadora de Diana; na firmeza geniosa de Eliana e, em mim, em tudo que consigo ser de melhor.
Impossível se igualar a ela.
Era e será sempre única, por isto imortal, feita de atitudes grandiosas e intransferíveis.
Uma guerreira que viveu quase um século com dignidade e coragem.
Comigo mais de quarenta anos de amparo, amor e doação.
Um exemplo de vida, Com ela todos se sentiam especiais.
Sabia validar cada um com a palavra certa.
De porte pequeno e magro, comia pouco, quase nada, mas produzia fartura com suas mãos calejadas pelo trabalho árduo de todos os dias, sem se queixar.
Depois que ela se foi nunca mais o pão teve gosto de erva doce, como o que ela fazia no forno à lenha, nem os doces cuidadosamente elaborados, sempre em fogo baixo para não queimar, ensinava ela.
Nossos filhos, seus bisnetos, todos foram enrolados em mantas de crochê tecidas cuidadosamente, ponto a ponto nas poucas horas que dispunha para descansar.
Tirava da terra quase tudo de que precisava para o sustento da grande família de quem era matriarca.
Tudo que vinha dela era repassado de amor, carinho e doação.
Poucas vezes a vi chorar.
Não queria nos atingir com a própria tristeza para que nada nos perturbasse.
Sentia se responsável por nós, como zeladora incansável.
E era.
Quando ficávamos doentes, com um simples chá de erva cidreira, um escalda pés e um paninho quente no lugar da dor, nos deixava curados, prontos para voltarmos às travessuras no dia seguinte, como num passe de mágica.
A magia da cura instantânea vinha do amor que colocava em tudo que fazia.
Na verdade era o poder do amor e da confiança que tínhamos que assim estava certo e pronto.
Quando penso nela como mulher, não consigo colocá la em nenhum parâmetro feminino que conheço.
Foi mulher de um homem só e muito jovem perdeu seu amado.
Falava dele e nos contava como era.
Sem saber preparou nossa memória para que um dia pudéssemos contar aos nossos descendentes de onde viemos.
Foi fiel à sua memória enquanto viveu.
Não conheceu a vaidade, era simples no trajar e na forma de pentear os cabelos presos à nuca, brancos e lisos.
Se eu ficar falando nela, na vida que viveu, da fortaleza sensível que era, de seu legado de amor, com certeza teria que escrever um livro com muitas e muitas páginas.
Acho que não conseguiria fazê lo.
Apenas quero homenagear esta mulher, que foi a mulher da minha vida e a sorte que tive em tê la ao meu lado.
É justo que dedique a ela a singeleza do meu primeiro livro, à vó Geca, que mesmo sabendo apenas desenhar seu nome foi minha primeira professora e me ensinou, numa antiga lousa que fora dela a muitos anos, como escrever letra por letra todo o alfabeto.
Vó, te dou de presente minhas “CONVERSAS DE DOMINGO”.
Maria Alice