LIBERDADE E CONTROLE
Eu não sei você, mas eu faço o tipo controladora, gosto de estar na regência de tudo o que me cerca, vivo a ilusão de que sem mim as coisas não irão funcionar, me sinto necessária, e isso me agrada e ao mesmo tempo me angustia, gostaria de ser mais relaxada e mais resignada diante da minha falta de controle absoluta: pois é, a gente pensa que tem controle sobre tudo, mas não temos controle sobre nada.
Se você curte se auto investigar, bem vindo ao clube.
Passei horas, outro dia, conversando com um amigo sobre este instigante assunto: temos ou não temos controle sobre nossas vidas Minha tendência é acreditar que há um controle ao menos parcial.
Senão vejamos: eu tenho o poder de fazer escolhas.
Posso dizer sim ou não, ir para a esquerda ou para a direita.
Posso me separar, continuar casada, ter mais um filho, posso mudar a cor do cabelo, posso abandonar o emprego, passar dois meses sozinha numa ilha ou me internar num convento.
O que me impede
Você mesma se impede, responde ele.
Tem razão, o problema é que não somos livres.
Eu, ao menos, não acredito em liberdade enquanto houver dependências afetivas.
Para ser livres, precisaríamos não manter nenhuma espécie de laço com ninguém, o que é impensável: abrir mão de pai, mãe, irmãos, filhos, amigos, um amor.
É um preço alto demais para pagar pelo ir e vir.
Estou de acordo com um psicanalista que disse que o máximo de liberdade que podemos almejar é escolher a prisão em que queremos viver.
Eu escolhi a adorável prisão dos afetos.
Meu amigo considera interessante essa história de escolhermos nossas prisões, mas diz que isso só prova que somos 100% livres.
Poderíamos escolher prisão nenhuma, mas nos é intolerável a idéia de viver soltos.
Então vamos construindo nossas cercas: uma mãe doente a quem não podemos decepcionar, uma esposa que iria se suicidar se a deixássemos, filhos que iriam ficar traumatizados com nosso divórcio, um emprego ótimo que seria loucura abandonar, enfim, vamos inventando empecilhos para não sair da jaula.
A liberdade é desestabilizadora, e queremos tudo, menos a subversão.
Pergunto: que mal há em sermos corretos, em agirmos com decência e discernimento, em não frustrar as expectativas que depositaram em nós
Mal nenhum, responde meu amigo.
É até muito nobre, diga se.
Mas quem inventou as definições de correção e decência E quanto às suas próprias frustrações, são menos importantes do que as que os outros têm em relação a você
Pois é, de vez em quando entro em uns debates insanos sobre liberdade e controle, e onde chego com tudo isso A um papo excitante, o que já é muito.
Pensar é um ensaio de liberdade.
Que poucos se atrevem, aliás.
É o que por hora me permito enquanto eu não for na prática e às ganhas totalmente livre.