"Eu fiz isso", diz minha memória.
"Eu não posso ter feito isso", diz meu orgulho, e permanece inflexível.
Por fim, memória desiste.
Os jovens têm a memória curta e os olhos para ver apenas o nascer do sol; para o poente olham apenas os velhos, aqueles que viram o ocaso tantas vezes.
Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos.
Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir.
A memória age como a lente convergente na câmara escura: reduz todas as dimensões e produz, dessa forma, uma imagem bem mais bela do que o original.
Para a minha sorte e para o azar de muitos, tenho uma memória de ouro que me impede de confiar novamente em quem não merece.