Pensei mil vezes em como começar este bilhete.
Eu podia dizer só que acabou, mas daí eu teria que assumir que começou de verdade.
Foi mais ou menos assim: Você com os olhos que não eram nem verdes nem castanhos (mas algo lindo no meio do caminho) entra no salão devagar, timidamente, e me mostra muitos dentes num sorriso que certamente não foi premeditado.
Você caminha por entre as pessoas e beija uns rostos aqui e ali com a sua boca de lábios grossos, me prometendo com o olhar que logo seria a minha vez.
E eu, engolindo um suspiro, não digo uma palavra quando você se aproxima o suficiente para que eu sinta o cheiro da sua colônia.
Rio porque rir sempre foi a melhor forma de contornar a minha vontade de chorar.
Aí eu engulo, mando garganta abaixo a ânsia de enroscar meus braços no seu pescoço e pedir: por favor, eu.
Por favor, me escolhe.
É pura preguiça de te ver sendo tudo aquilo que eu nunca quis aceitar em homem nenhum, entende Tô voltando as casas no tabuleiro e indo pra outra direção mais por amor a mim e a minha sanidade do que qualquer coisa.
Eu teria que dizer que você e seus olhos esverdeados e sua covinha na bochecha me amaram e quiseram construir uma história de amor comigo.
Num tô levando nada seu não, tá ficando tudo aí.
Até seu coração, que eu não sou de pegar o que não é meu.
As cartas que escrevi, fiz questão de queimar.
Que daí cê não guarda lixo e diminui a bagunça do seu quarto pra, quem sabe, deixar outra pessoa te invadir.
Afinal, alguém, um dia, tem que conseguir entrar aí de verdade, não é Por isso que nem me deixo.
Eu teria que acreditar que a gente, alguma vez, teve sequer uma chance de subir no altar e falar aquelas palavras bonitas e jurar que a gente ia superar pobreza, doença, tristeza e todas aquelas coisas que casais apaixonados juram para ser feliz.
Mas essa história não é nossa.
Destruí o que pude dos meus vestígios porque não quero ser lembrada de nada não e nem quero lembrar.
Cansei de acumular histórias tortas e inacabadas nas minhas memórias.