Há sonhos que devem permanecer nas gavetas, nos cofre, trancados até o nosso fim.
E por isso passíveis de serem sonhados a vida inteira.
A vida é crua.
Faminta como bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima, olho d'água, bebida.
A vida é líquida.
Alguns doutos em ciências descobriram que quanto maior o intestino, mais místico o indivíduo.
E quem mais místico que Deus Grande Intestino, orai por nós.
Que canto há de cantar o indefinível
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer
Amar o perecível,
o nada,
o pó,
é sempre despedir se.
Ames ou não, ó minha amada
Quero te sempre boa atriz
Mentir amor não custa nada
E custa tanto ser feliz.
A poesia é o desafio do não dizer, a impossibilidade de dizer algo.
A matemática tem semelhança com esse estado de ser.
Em ambas há manifestação do divino, algo tão perfeito que transcende tudo.
Antes que o mundo acabe,
deita te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso
E nos cobrimos de beijos
E de flores
antes que o mundo se acabe.
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
Se me proponho ouvir.
Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos.
Vem dos ressentimentos.
E sibilante e lisa
Se faz paixão, serpente, e nos habita.
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada