Nossos caminhos são agora um só caminho, nossas almas, uma só alma.
Cantarão para nós os mesmos pássaros, e os mesmos anjos desdobrarão sobre nós as invisíveis asas.
Temos agora por espelho os nossos olhos; o teu riso dirá a minha alegria, e o teu pranto, a minha tristeza.
Se eu fechar os olhos, tu estarás presente; se eu adormecer, serás o meu sonho; e serás, ao despertar, o sol que desponta.
Nossos mapas serão iguais, e traçaremos juntos os mesmos roteiros
que conduzam às fontes escondidas e aos tesouros ocultos.
Na mesma página do Evangelho encontraremos o Cristo, partiremos na ceia o mesmo pão; meus amigos serão os teus amigos, perdoaremos com iguais palavras aqueles que nos invejam.
Será nossa leitura à luz da mesma lâmpada, aqueceremos as mãos ao mesmo fogo e veremos em silêncio desabrochar no jardim a primeira rosa da Primavera.
Iremos depois nos descobrindo nos filhos que crescem, e não mais saberemos distinguir em cada um os meus traços e os teus, o meu e o teu gesto, e então nos tornaremos parecidos.
E nem o mundo nem a guerra nem a morte, nada mais poderá separar nos, pois seremos mais que nunca, em cada filho, uma só carne e um só coração.
Que o homem não separe o que Deus uniu.
Que o tempo não destrua a aliança que nos prende, nem os amores, o amor.
Que eu não tenha outro repouso que o teu peito, outro amparo que a tua mão, outro alimento que o teu sorriso.
E, quando eu fechar os olhos para a grande noite, sejam tuas as mãos que hão de fechá los.
E, quando os abrir para a visão de Deus, possa contemplar te como o caminho que me levou, dia após dia, à fonte de todo amor.
Nossos caminhos são agora um só caminho, nossas almas, uma só alma.
Já não preciso estender a mão para alcançar te, já não precisas falar para que eu te escute