É urgente inventar a alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é rgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei ás romãs a cor do lume.
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Entre os teus lábios é que a loucura acode,
desce à garganta, invade a água.
No teu peito é que o pólen do fogo
se junta à nascente, alastra na sombra.
Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.
Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.
Sê paciente; espera que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto ao passar
o vento que a mereça.
Devias estar aqui rente aos meus lábios para dividir contigo esta amargura dos meus dias partidos um a um ( )
Havia
uma palavra
no escuro.
Minúscula.
Ignorada.
Martelava no escuro.
Martelava
no chão da água.
Do fundo do tempo,
martelava.
contra o muro.
Uma palavra.
No escuro.
Que me chamava.