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Eu só queria

Ao clandestino.
Eu só queria te dizer que me arrependo por ser o que você nunca cogitou apreciar.
Que eu me engasgo toda vez que te vejo sem rumo por aí.
Que quero o mesmo rumo, mesmo não entendendo por quais caminhos tu pretende demarcar os teus passos.
Escrevo te por não saber exatamente o que fazer com esse amontoado de palavras que me despem num olhar feroz.
Escrevo por vergonha ilícita de tragar saudade ao invés de amnésia.
Beber doses de culpa, como se o gosto forte do álcool contracenasse com a tua saliva em uma luta brutal de engano e dívida e mesmo assim eu perdesse pra lembrança.
Eu precisei esconder a tremura nas mãos, a pupila dilatada e qualquer outro sinal de fraqueza na tua última visita.
Precisei costurar o meu todo em retalhos para que a minha estrutura não se rompesse.
Fiz um trato com o acaso e alterei o tom do meu gargalhar.
Abracei o travesseiro demoradamente como se aquele perfume me confortasse.
Faz assim ó, fica parado enquanto eu passo as pontas dos dedos pelo contorno do teu nariz.
Deixa eu rir daquela cicatriz no queixo, morder a ponta da tua orelha.
Só fica.
Fica quieto, não diz nada, eu não preciso.
Só não negue um abraço a quem sente falta de se acomodar nos teus braços.
Não sorria, eu nem prezo por você.
Apenas finjo gostar enquanto te desejo.
Apenas digo que gosto para não dizer que te amo.
E foi assim.
Meio sem sentido, meio torto.
Eu vi numa aresta daquele sorriso algo que eu sempre quis, mas nunca pensei que pudesse existir.
Eu vi num tom de pele mil tirinhas de diamantes e vibrei com a ganância e o brilho ilusório.
Foi como olhar um dia nublado pela primeira vez.
Conseguia sentir o cheiro de terra molhada como o aroma daqueles dias de chuva.
Encontrava me nas tempestades dos teus beijos e me adaptava nelas como se aqueles moinhos de ventania fossem feitos especialmente para mim.
Assim como o perfume doce.
Ao clandestino dos meus pecados, dos meus sonhos sem previsões.
É como sorrir para o céu por te ver nele todas as manhãs.
É negar, negar, negar.
É descobrir que até as palavras usam a distração como rota de fuga.
É descobrir que além do meu ontem, você também é a minha distração.
É reconhecer dentre os esquecimentos que eu quero te colar nos meus amanhãs.
Sim, moreno.
Nas manhãs preguiçosas, estirados no sofá da sala, num domingo qualquer.
Agora nem isso posso ter.
Desculpa não conseguir empilhar nossos instantes numa prateleira qualquer.
Desculpa esse dégradé de saudade, redemoinhos de ilusões que me alimentam e te distanciam.
Eu sentia tua respiração distante, equilibrando me na corda bamba que nos prendia, mesmo que nada te prendesse a mim agora.
Desculpa não ter sido eu a pessoa que desabotoou o teu melhor sorriso.
E eu ainda te dedico os meus versos mais sinceros.
Ao clandestino.