Que possamos amar na falta, desejando o que não temos, e também na presença, alegrando nos com o que já se encontra à nossa disposição.
O mundo alegra quando está bem diante de você.
Não é como o objeto do desejo, confinado nos seus devaneios.
O amor aristotélico é pelo mundo como ele é.
Não pelo mundo como gostaríamos que fosse.
E você, andando na rua, declara sem medo de errar: gostei mais desta mulher do que gosto da minha.
Afeto carnal.
Inclinação erótica.
Tesão.
Eu prefiro um amor na alegria pelo que tenho do que no desejo pela mulher de capital estético exuberante e apetecível que me falta.
A moral é a imitação mais perfeita do amor.
O problema é que o amor é instável.
Amamos pouca gente e temos que conviver com muitas.
Por isso a ética é tão importante.
É o substitutivo do amor quando o amor nunca existiu ou deixou de existir.
São esses momentos que a gente persegue, e que farão da vida, sempre alguma coisa digníssima de ser buscada, e fantástica de ser vivida.
Ou você ama e deseja o que não tem, ou tem, mas aí, sem desejo, sem amor.
Paradoxo platônico da existência.
Ora, se a felicidade para você e para mim implica ter o que se quer ter, então, o amor não será feliz nunca.
Aragon é poeta.
Não há amor feliz para ele.
Ou você ocupa todos os seus espaços e se torna onipresente para ele, ou ele te amará só de vez em quando.
Nos instantes de encontro.
No resto do tempo ele amará a secretária, a copeira, o personal, o zelador e o que mais lhe alegrar pelo mundo.
Por isso, é melhor que os dois tenham razão.
Para que o amor seja rico.
E possamos amar na falta, desejando o que não temos, e também na presença, alegrando nos com o que já se encontra à nossa disposição.
Optar pelo amor em detrimento da estabilidade já conhecida pode ser bom.
Ser um pouco mais afetivo e um pouco menos racional.
Pense nisso.