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Verônica H.

Só numa multidão de amores
Eles não estavam trocando juras de amor, não andavam de mãos dadas, nem se chamavam por nomes infantis.
Não tinha pieguice romântica ali.
Mas foi a cena mais doce que eu vi: dois olhares se encontrando.
Não só se encontrando: se confortando, se sabendo, se completando.
Eu notei que eles eram algo além de amigos, que se desejavam e se protegiam, e foi só pela cumplicidade dos olhos, que deixavam de ser dois e se enlaçavam quatro.
Eu quis então ter um olhar pra mim.
Não alguém pra chamar de meu, como diz o clichê, como grita a conveniência, mas um olhar que fosse meu por puro encaixe.
Foi um pouco de inveja, talvez.
Eu soube naquelas duas pessoas que elas não se sentiam sozinhas ou perdidas.
Que mesmo depois de um dia cheio e chato, tinham uma certeza de carinho.
E eu quis.
Quis algo além da rotina do trabalho e gente fabricada com seus narizes perfeitos e cabelos penteados.
Quis algo certo como o frio na barriga e a respiração travada, o coração esquecendo de bater.
Quis algo errado que me fizesse bem só por escapar do caminho óbvio de toda noite.
Uma espera no fim do dia, sabe Essa espera.
Não a espera de uma vida toda sem saber o que buscar pra ser feliz.
Só sair do dia igual pra ter uma noite diferente.
E tornar esse diferente comum só porque é bom estar perto.
Todo o amor que eu sufoquei por excesso de razão agora grita, escapa, transborda.
Estou só numa multidão de amores, assim como Dylan Thomas, assim como Maysa, assim como milhões de pessoas; assim como a multidão de amores está só, em si.
Demonstro minha fragilidade, meu desamparo.
Eu não procuro alguém pra pentencer e ter posse, só quero uma fonte segura de amor que não dependa das obrigações, das falas decoradas, dos scripts prontos.
Eu sei que eu abri mão de várias oportunidades.
Sei que fiz pouco caso do amor que me entregaram de maneira pura e gratuita, só porque eu achava que podia encontrar coisa melhor.
Se as pessoas estão sempre indo e vindo, eu só queria alguém minimamente eterno em sua duração, que me fizesse parar de achar normal essa história de perder as pessoas pela vida.
Vou embora querendo alguém que me diga pra ficar.
Estou sempre de partida, malas feitas, portas trancadas, chave em punho.
No fundo eu quero dizer "Me impede de ir.
Fica parado na minha frente e fala que eu tenho lugar por aqui, que não preciso abandonar tudo cada vez que a solidão me derruba.
Me ajuda a levar a vida menos a sério, porque é só vida, afinal." E acabo calada, porque não faz sentido dizer tudo isso sem ter pra quem.
Eu não quero viver como se sobrevivesse a cada dia que passo sozinha.
Não quero andar como se procurasse meu complemento em cada olhar vago.
Eu acho que mereço mais que isso por tudo o que eu sei que posso fazer por alguém.
E fico só esperando, na surpresa do dia que eu desencanar de esperar, um par de olhos que me faça ficar sem nenhuma palavra, nada além de dois olhos se enlaçando quatro.
Nessa multidão de amores, sozinho é aquele que não espera.

Plateia
Talvez eu nunca entenda o real sentido das borboletas no estômago, da boca seca e joelhos frágeis.
Ou talvez nunca seja a palavra mais ridícula do dicionário; e eu sei do poder que as palavras exercem sobre mim.
A verdade é que sempre me esquivei de qualquer pequena possibilidade.
Sempre tive medo de gostar e ser deixada.
Porque veja bem, de primeiras impressões o mundo está cheio.
E logo meu primeiro coraçãozinho na agenda, ficou partido quando menos se esperava.
Eu tive todos os motivos pra acreditar num sentimento que logo se foi; e foi sem me levar.
Cansei de ouvir que eu não me deixo levar, que eu não me abro e não dou espaço.
Disso eu sei.
Eu só queria ter aprendido no colégio como mudar os defeitos que vêm na fabricação.
Minha frieza de visão só me faz ver defeitos e faltas.
Eu não sinto.
Eu não me abalo.
Eu sei o que vai acontecer e não me surpreendo.
Eu acho graça do esforço e da boa vontade, mas isso é muito triste pra mim.
É como se eu me assistisse de fora o tempo todo, tendo consciência de cada passo, cada sorriso, cada palavra.
É como se eu fosse plateia da minha própria solidão.
Se ao menos eu pudesse ter a certeza de que isso um dia vai mudar
Sinto falta e medo.
Talvez nunca ame, talvez seja nova demais pra dizer isso.
Quero o frio na barriga, a emoção de primeiros encontros.
Quero escrever mais que palavras de desculpas, textos sobres finais sem final; quero mais que arrumar coragem pra terminar.
Quero coragem pra começar.

A falta de alguma coisa que eu não sei o que é
Eu sempre acho que amanhã será o dia de mudar de vez, de me assumir por completo.
Mas daí o amanhã chega e tenho uma imensa preguiça de sair da minha área de conforto, porque é bem provável que ninguém entenda.
E dá medo encarar o que é definitivo.
E porque é mais fácil reclamar da vida do que torná la leve de sobreviver.
Hoje eu sinto saudade e nem sei do quê.
É uma angústia louca, um misto de vontade de chorar e sorriso leve.
Eu não sei citar motivos, mas alguma coisa me falta.
Estou ao mesmo tempo feliz e deprimida, tenho companhia e nunca fui tão sozinha, tenho sucesso e nuna me senti tão fracassada.
Eu crio mil planos pra mim e boicoto todos eles.
A vida é tão cheia de ciclos e fases e eu me agarro doentiamente ao conhecido.
Eu evito mudanças drásticas, sabendo que são meus impulsos mais interessantes e busco o conforto da mesmisse.
É ridículo, não há surpresas.
Ninguém nunca espera que eu saia dos meus limites.
Quem me conhece de verdade E quem sabe dos momentos que eu estou a ponto de explodir As saudades são grandes, o telefone mudo.
Me identifico com livros e personagens e nem tenho uma história pra contar.
E se eu contar, quem vai se importar
Eu me importo, e muito.
Quero marcar mais quem passa por mim, quero perder esse medo de não agradar, essa preocupação em ser o que todos esperam.
Tentando não incomodar ninguém eu fico neutra.
Invisível.
E todas as minhas experiências de falta de preocupação já me indicaram que seria bem melhor me assumir.
Eu não sou tímida.
Sou calculista.
E essa falta Na verdade eu sei, mas não queria saber É falta de mim.