Rodrigo Ap Mendonça

Soneto da liturgia
A vida é ainda mais vida
Pelo louco sabor de a amar.
A poesia é ainda mais poesia
Pelo encanto deste amor ao ar.
Os fragmentos de pura alegria
Que toda cabe num só olhar.
São renovos doces da harmonia
Que nos agracia bem de vagar.
Como as ondas do grande mar
Misteriosas, e a boa ventania,
Surge, com o fluir da neblina
Levando nossas almas a viajar
Nunca se sabe para qual lugar
Teletransporta nos em liturgia.

De Lúcifer à Satanás
Se tem uma coisa que Deus detesta
Com toda veemência possível,
É o orgulho, a soberba em rijo
Sobretudo, de ''intelectuais patetas''.
Ora, nem os mais sábios homens
De toda história, do começo ao fim
Se compara ao ungido Querubim,
Lúcifer, sua sabedoria os consomem.
E quanto aos que se intitulam santos
E que levam sempre a sua cruz
O que direi, pois, do portador da luz
A Estrela D'Alva, o formoso encanto.
Vejo a preocupação com o estereótipo
De pessoas com um corpo perfeito,
Que se vangloriam diante do espelho
O esplendor de Lúcifer era protótipo.
Ao tolo, ambicioso por bem material
Pessoas famosas, ricas e poderosas,
Lúcifer morava no paraíso, e em glória
E excedia aos anjos, era excepcional.
E hoje, Lúcifer foi expulso do paraíso
Ignóbil, anátema, é uma aberração,
Quem diria que aquele ser tão lindo
Perderia tudo devido a sua ambição

O pai ausente
Meu pai, o senhor sempre foi ausente
Como se da mãe fosse divorciado.
Você nunca esteve do meu lado
E isto me deixou muito carente.
Mas, os anos se passaram
E muita coisa então mudou.
Eu não quis aceitar o fato
De que o seu caráter melhorou.
O tempo traz verdades, e comprovou.
E na minha farta alma amargurada
Na corola do dom da isenção pingou
Como uma gota de orvalho, purificou
O ressentimento, angustias passadas
E o perdão brotou para um novo amor.

Da reciprocidade gélida
Meu ilustre poeta, eu te digo: no pesar de todo encantamento, as pessoas mais frias costumam apenas emitir um reflexo de reciprocidade, um mero espelho de outras almas, de vultos sombrios e alheios

Da falsidade
A falsidade é mais podre, e exala um odor tóxico, pestilento, fétido, desagradável e mefítico, bem como atrai mais seres do que urubus na carniça.

A hora do crepúsculo
Cada qual tem o seu tempo determinado para amadurecer; o tempo, pouco importa, o primordial é que saibam amadurecer Pois, fundamental importância da virtude não reside em sua intensidade, mas, sim, e precipuamente, na sua capacidade de se eternizar, a cada momento.

Dos segredos do amor
A base do amor é o respeito e a igualdade, e não o medir de forças para ver quem tem mais poder de mando ou de coação.

Cândido
Há anjos que, mesmo sem asas, costumam voar por lugares mais elevados e distantes.

Refrigério
De nada faço questão e nem dou muita importância para as coisas ilusórias, utópicas e vaidosas do mundo e das vis futilidades vãs da vida.

O conto da morte
e quando chegou a hora das trevas, não hesitei, não titubeei, não esbocei reação alguma: de nada fiz questão.
Deitei no meu caixão, como que se tivesse deitando na minha cama, e fechei os meus olhos, como faço toda noite, para dormir

A árvore da vida
Cada qual de nós se vangloria
No íntimo de nossa austereza.
Eu abro mão da minha nobreza
E da vão coroa que me contagia.
Muitos, reverenciam as riquezas.
Poucos, prezam pela sabedoria.
Uns: os prazeres, em prol da alegria
Outros, exibem as suas belezas
Há outro grupo social Audácia
Que fogem dos padrões estilares,
São um brilho solitário, estrelares,
A luzir a mansidão e a perspicácia.
Apartados do inverossímil, este liame
Possuem por virtude mor primordial:
A fé no Deus vivo, sem longitudinal,
São o povo eleito, como de ditame
São como árvores do jardim do Éden
E que não se mede pela dimensão
Pela sua beleza, força, ou, extensão
Mas pelos frutos.
E que, este gérmen
Cresça vigorosa, e nunca exangue.
E que seu legado seja impostergável
Oxalá que seja assim, irrefragável
Em cujo adubo são gotas de sangue.

O parasita
Já que me foi dado a vida
Sinto me compelido a viver.
Como se parece com a poesia:
Onde eu deixo por acontecer.
Ah, mas como me é difícil!
É muito mais cômodo não ser,
É muito mais fácil só existir,
É muito mais simples perecer
Ser a melhor pessoa do mundo,
Eu nunca fui e nunca tentei
Até porque, neste absurdo
E sob um aspecto obscuro:
A minha morada é no meu ser,
Sou o melhor do meu mundo.

Virando a página da vida
As páginas foram viradas
As páginas da minha vida.
As palavras foram assopradas
Por uma leve ventania.
Com um lápis e sem borracha
E uma velha escrivaninha:
Das minhas antigas poesias
Por vocês foram queimadas
E por ninguém foram lidas.
E vaguei como alma penada
Sozinho, no ocultar da neblina.
E no nascer das alvoradas
Surgi com a luz do dia
Como uma sombra radiada.

Dicotomia
Longe dos bairros nobres, bem distante da vida luxuoso e ostensiva, o céu cinzento cobria toda vida como um grande jornal antigo, cujas nuvens exacerbadas pairavam repletas de chuvas guardadas de arrogância, de prepotência, de altivez, de crueldade, de avareza, etc Bem longe dali, havia uma pequena aldeia, e a bondade e a caridade, a humildade e a simplicidade podia ser vislumbrada como o sol do meio dia, em perfeita alegria de primavera.
Onde faltava suntuosidade excedia em amor.

Epílogo
A minha última visão da vida
Ah! Não foi bem a visão da vida,
Mas, foi a visão do céu.
Foi a visão do céu a luz do dia,
Em seu lindo arco íris de alegria
Contemplado além deste azul véu.
Visto como que pelo olhar de criança
Que, pela sua inocência de infância.
Abriu lhes os horizontes, e vislumbra:
Foi lhe um alvoroço infinito e delicioso
Amigavelmente confortável e carinhoso
O céu foi a minha sepultura!