Vivo a minha vida em círculos cada vez maiores / que se estendem sobre as coisas.
/ Talvez não possa acabar o último, / mas quero tentar.
Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.
O POETA
Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: da boca o que faço agora
Que faço do dia, da noite
Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.
Uma única coisa é necessária: a solidão.
A grande solidão interior.
Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar.
Estar só, como a criança está só.
As obras de arte são de uma solidão infinita: nada pior do que a crítica para as abordar.
Apenas o amor pode captá las, conservá las, ser justo em relação a elas.
O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma, de nos tornarmos um mundo para o ser amado.
É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes.
Ser artista significa: não calcular nem contar; amadurecer como uma árvore que não apressa a sua seiva e permanece confiante durante a tempestade da primavera, sem o temor de que o verão não possa vir depois.
Ele vem apesar de tudo.
Nada mais que possibilidades.
Nada mais que desejos.
E, de repente, ser realização, ser verão, ter sol.