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Marla de Queiroz

Sobre adicionar e remover
Tenho tentado não agir por impulso.
E vejo com clareza, após pensar, repensar e estudar os vários ângulos possíveis de uma situação, o que devo remover e acrescentar na minha vida.
Infelizmente, isto também inclui pessoas.
E pessoas que, em determinado momento, tiveram uma importância primordial na minha existência.
Mas eu mudei, elas mudaram.
E não foram apenas as idiossincrasias que nos afastaram, mas simplesmente, ter valores que não se casavam mais, desconfortos maiores que alegrias, disputas estéreis, uma necessidade insaciável de despertar emoções negativas, e um vácuo enorme onde havia abraço.
Onde havia amor ( ).
Não foi fácil, não tem sido, mas tenho me sentido mais coerente com as coisas que me propus a viver.
Com as coisas que eu tenho para dar e derramar.
Com o espaço que abro para o tipo de relações de trocas reais, de afetos sinceros, de atitudes maduras, de comportamentos honestos.
Não quero amar apenas quem é amorável, quero amar quem merece ser amado.
Por causa e apesar de.
E eu brindo o que é recíproco mesmo que não seja idílico.
Tenho plena consciência de que na diferença que o Outro me traz é que aprendo, mas que venha com transparência.
Eu prezo pessoas de verdade, estas me são caras.
Os fakes eu respeito e deixo que sigam.
Não há problema nenhum em nada e ninguém, desde que eu saiba que sobre a minha vida, a mim me cabem as escolhas.
E eu dou o meu melhor e mereço receber o melhor também.
E todo este meu trabalho interno poderia ser resumido assim: eu quero crescer para mim mesma.

Ele nem sabe
Ele não sabe mais nada sobre mim.
Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada.
Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas.
Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos.
Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranqüilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto.
Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos.
Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa.
Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco.
Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos.
Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim.
Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade.
Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável.
Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre.
Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura.
Hoje foi um dia em que percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso.
Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha.
Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria.

tudo novo de novo
O choro secou.
Um outono doce impera com seu aconchego de amor e lucidez, suaves.
E esse abraço aveludado que chegou repentinamente, num calorzinho de cuidados e curas.
Não restam mais feridas.
A dor perdeu seu lugar na minha rotina e foi procurar outros rumos.
Tenho novos sonhos e um sono novo e profundo.
Suavemente tudo mudou de ritmo e celebrei o tempo de cada novo passo.
A princípio tive tanta ansiedade, porque tudo parecia um turbilhão, mas de que adianta tentar pular aprendizados Se é de poesia que o poeta precisa, vamos a ela e não mais à repetição de uma melancolia eterna e bem aprimorada.
Chuva e sol, calor e frio: eis o equilíbrio da vida.
Se eu nasci com o sorriso mais largo do mundo, não vou entristecer o meu olhar nem anestesiar minha alegria.
O choro secou.
Já era tempo de prestar mais atenção em outras cores, promover como prediletas outras flores e entrar no mar sem medo, furando a onda com respeito e repetindo a cena com entrega e confiança.
Nada ficou fragmentado.
Saí inteira e o amor em mim transborda: pele aceitando carícia, olhar brilhando com a menor das delícias.
O toque é novo e a respiração tranqüila.
Às vezes ainda ofego um pouco, mas quem disse que artista nasceu para sentir pouco Importante agora é que o choro secou.
Antes o meu pranto era cego.
Tive que olhar longamente no espelho pra saber o que ainda poderia resgatar de mim.
Não quis nada do que restou, quis o meu sorriso novo, minhas portas abertas e a vontade de saltar novamente no desconhecido.
E hoje eu só choro se for de alegria.