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Marla de Queiroz

Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe.
Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída.
Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar.
Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza.
Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo.
Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema.
E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”.
Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias.
Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais.
Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta.
Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais.
Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta.
Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria.
E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia.

Pouca gente espera pela chuva como quem espera por um grande amor.
Quase ninguém celebra um pôr do sol como quem é promovido no trabalho ou tem qualquer ganho material.
Conheço poucas pessoas que se emocionam com o colorido de uma paisagem.
Conheço pessoas muito sensíveis que têm muito mais vocação para a anestesia autodestrutiva que para a canalização desta sensibilidade para a criação do Belo.
Pessoas procuram sossego e confundem a paz com o tédio.
Alguns, quando estão melancólicos, se acham miseráveis em tudo.
Nada basta.
Há quem saia para contemplar o mar e não consiga ver uma gota de água a sua frente.É muito fácil se agarrar ao sofrimento e, num momento de alívio, dizer que aprendeu a dar valor às coisas pequenas, simples da vida.
Leia se: a ter para onde voltar, cama quente para dormir, um dia bonito para ver, olhos para enxergar, agasalho num dia frio, um abraço de um amigo, companhia para quando a solidão apavora, um céu estrelado, o cheiro de terra molhada que a chuva traz, as sementes que se fertilizam, as árvores que dão sombra quando o sol está inclemente.
Meu Deus, estas podem ser coisas simples, mas não são as pequenas coisas da vida, são as grandiosas! As maiores.
As que permanecem para lembrar o movimento de tudo, o ritmo da Vida.
As "pequenas" coisas são as imensas, meus amores.
As mais importantes.
E as paisagens, chova ou faça sol, ainda são as que emolduram o encontro deste tal grande amor.
E que enchem de adornos qualquer sorriso de alegria.