Aquele canta e ri; não se embaraça Com essas coisas vãs que o mundo adora Este (oh, cega ambição! ) mil vezes chora Porque não acha bem que o satisfaça.
Meus pensamentos se apuram, Apuram se os meus desejos No ténue filtro celeste De teus espontâneos beijos.
De quantas cores se matiza o Fado! Nem sempre o homem ri, nem sempre chora, Mal com bem, bem com mal é temperado.
Os Homens não são maus por natureza; atractivo interesse os falsifica, A utilidade ao mal, e ao bem o instinto Guia estes frágeis entes.
Virtude os meios ama, odeia extremos; Extremos são no mundo ou erro ou culpa.
Do mesmo que abrilhanta a Humanidade Longe, longe, ó mortais, o injusto excesso!
Mas, ah tirano Amor! Ou cedo ou tarde É forçoso aos mortais sofrer teu jugo; Amor, tu és um mal que fere a todos: Longa experiência contra ti não vale, Ou Virtude, ou Razão, só vale a Morte.
Da glória, que não é romper muralhas, Tragar a natureza, Ou nutrir ilusões, dar vulto ao nada, Mas em jugo macio Docemente prender geral vontade.
Faço a paz, sustento a guerra, Agrado a doutos e a rudes, Gero vícios e virtudes, Torço as leis, domino a Terra.
Política feroz, que sempre armada De bárbaros pretextos, À morte horrenda em lúgubre teatro Dás vítimas sem conto, Apoucas e destróis a Humanidade, Afectando mantê la.
Morrer é pouco, é fácil; mas ter vida Delirando de amor, sem fruto ardendo, É padecer mil mortes, mil infernos.