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Lucas Carneiro de Oliveira

Todos falavam demais, gritavam demais, bebiam demais.
Procuravam demonstrar seus estereótipos de um modo forçado, quase que empurrado goela abaixo.
Enquanto nós, sentados um de frente pro outro, apenas nos sentíamos.
Reparávamos no modo como o outro respirava, no piscar frenético dos olhos e até mesmo, no volume escondido pelas roupas.
Você percebia que aquela taça que eu erguia a boca não era propriamente uma taça, e sim você.
Pelo jeito como eu a tocava, como a degustava em minha boca ao mesmo tempo em que olhava no fundo dos seus olhos, ou quando balançava em frente à face para aspirar todo aquele perfume já decantado, como quem cheirasse até o canto mais obscuro do teu corpo.
Na minha mão, naquele momento, era você e não uma taça.
E você sabia bem.
Sabia porque, enquanto sentia o teu cheiro de forma indireta, tombava sutilmente o pescoço, o deixando à mostra, e fechava os olhos.
Podia me sentir no seu corpo, enquanto a sua mão percorria a haste da sua taça subindo e descendo, com calma e confiança, com leveza e intensidade.
A sua perna, mais precisamente a parte interna das suas coxas recostavam se quase que instintivamente, como uma bateria movida a fricção, que fazia percorrer pelo seu corpo todo uma leve descarga de algo tão sufocante e revigorante, que ainda não tem nome.
Mas te fazia querer estar exatamente ali, concentrada.
Talvez para outras pessoas, em meio àquela multidão, fosse difícil não deixar o foco se dispersar.
Mas pra nós isso nunca foi problema.
Pra quem passava, achava que a gente nem se notava, e nós adorávamos isso.
Tínhamos o nosso próprio universo, onde falávamos sem dizer, sabíamos sem precisar demonstrar e nos amávamos através do sentir.

"Na minha cabeça um monte de idéias confusas, emaranhadas com rancor, dúvidas e até medo." Medo de descobrir o porque de alguns por ques "Eu não sei." Foi aí que ele me segurou pelos ombros, respirou fundo e me olhou nos olhos, não com ares de raiva, ou de superioridade, se quer de indignação ou imposição.
Mas sim com olhos de quem sabia bem o que ia dizer e disse.
"Meu rapaz, imagine que você está de pé agora, nesse exato momento.
Agora imagine que a alguns metros de distância, poucos metros, há um homem empunhando uma arma, municiada.
Ele a está mirando com um olho ligeiramente fechado.
Neste exato momento, ele já segura a respiração, ele não quer errar o tiro, é um atirador experiente, quase um profissional.
Agora imagine que ele não está mirando em você, ou em qualquer parte do seu corpo, mas sim, ao seu lado, no vazio.
Ele não vai te acertar você daria um passo ao lado " Eu olhei aquele velho e pensei que estava desperdiçando meu tempo ouvindo aquilo.
"Claro que não! Eu tenho meus problemas, tudo bem.
Mas eu penso que esse não é o jeito de resolver as coisas.
Seria uma atitude totalmente imbecil! " "Tudo bem.
Eu esperava que dissesse isso.
Realmente pareceria uma burrice, não é Mas vamos mudar um pouco essa história Imagine que você não está mais sozinho, ao seu lado agora está a pessoa que você mais ama no mundo, em outras palavras: ela.
O atirador faz tudo igual, minucioso.
Faz a visada, alça, massa, alvo.
Fixa o olhar, segura a respiração.
Ele não deve errar Você daria um passo ao lado Cometeria essa atitude imbecil " Nada foi dito por alguns instantes sem resposta.
Não que ele não quisesse, ou que não tivesse o que falar.
É que naquele momento ele precisou ouvir um pouco o silêncio.
Quanto tempo Não sei.
O silêncio tem um estranho jeito de encarar o que chamamos de tempo.
É como se ele tivesse seu próprio relógio.
"Me diga, garoto! Ela não é o amor da sua vida " "Sim.
Claro! Eu tomaria um milhão de tiros por ela! " " Pois é pareceria burrice agora Pareceria uma atitude tão imbecil Nada de diferente, nem pra mais nem pra menos.
Somente um passo como na história anterior.
"Não " Foi um não que quase não saiu.
Não porque não fosse convicto.
Mas porque talvez nem precisasse ser dito.
"Pois eu te digo que Sim.
Porque realmente seria.
Uma atitude Imbecil.
Impensada.
Uma burrice! Mas você jamais se arrependeria dela.
Porque você fez o que precisava ser feito.
E o que te direcionou, o que te guiou, foi seu amor.
E muitas vezes nos questionamos muito com os porques, e com atitudes que não conseguimos entender e esquecemos que o amor tem suas próprias razões.
É o que eu quero que entenda, garoto.
Não se preocupe tanto em entender as atitudes.
Preocupe se mais em entender as razões.
Afinal, o amor têm razões que a própria razão desconfia.
Morô " Eu não sei Ele cheirava mal, tinha a calça suja, principalmente nos joelhos.
No lugar do cinto um barbante amarrado que também segurava suas chaves.
A blusa era folgada, a ponto de caberem dois dele dentro.
A barba branca por fazer e a toca cobria mais um lado da cabeça do que o outro.
Provavelmente ele não tinha onde cair morto.
Mas naquele momento, me pareceu o homem mais rico do mundo.